Dialogue + Dialoog + 對話 + Dialog + Диалог + Διάλογος + 대화

[do grego diálogos, pelo latim dialogus] – 1. Entendimento através da palavra, conversação, colóquio, comunicação. 2. Discussão ou troca de idéias, conceitos, opiniões, objetivando a solução de problemas e a harmonia. [dialogosentrearteepublico@gmail.com]

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Diálogos Imaginários no Museu
Histórico e Antropológico do Ceará:
atravessando fronteiras para dinamizar
ou problematizar a vida?
Carolina Ruoso

A revista nos convidou para escrever sobre um tema instigante do nosso presente: produzir uma reflexão sobre as possibilidades de relações que um Museu pode construir com o público nos processos de mediação de saberes e gostos. Essa inquietação faz parte do cotidiano de quem trabalha em instituições culturais, pois não há exatamente uma resposta e os caminhos que vêm sendo tracejados contribuem na construção de propostas que intentam dialogar com os desafios museais deliberados pela nossa contemporaneidade.

Esses desafios partiram de desejos por uma sociedade mais sensível às questões sócio-culturais postas em pauta no mundo e pela forte ligação dos museus aos espaços de entretenimento, combinando museu e consumo. Constituiu-se, então, um ponto de tensão nas abordagens direcionadas ao público. Era preciso estabelecer novos procedimentos para atrair público e a pergunta “para que serve um Museu?”, depois dos anos cinqüenta do século XX, foi fundamental para a construção de definições políticas com relação às funções sociais do museu. É dentro dessa polêmica que trazemos o Insigne Projeto Capistrano de Abreu, do Museu Histórico e Antropológico do Ceará, com o tema Museu – Escola, para que, no diálogo com experiências do passado, ensaiemos provocar o presente.

O projeto era em homenagem ao historiador cearense Capistrano de Abreu, não pela abordagem historiográfica de sua escrita, mas porque ele era um cearense considerado digno para ser referenciado como herói e, nesse caminho, servia como exemplo histórico. Outro indício provocador está na escolha de um historiador como mestre de um projeto que trazia, nos seus objetivos, a intenção de conquistar os jovens e estimular neles a vontade de pesquisa no Museu. Era um historiador como patrono do gosto pela história, era um nome forte, revelador de uma abordagem histórica personalista e legitimador de uma proposta educativa: levar o museu até as escolas. Que museu e para qual escola?

Essa iniciativa foi desenvolvida pelo diretor da casa, Osmírio de Oliveira Barreto, e aconteceu com maior freqüência nos anos oitenta do século XX, durante sua gestão de quase vinte anos (1971-1990). Tratouse de uma iniciativa, nos anos de ditadura no Brasil, período em que a força de uma tradição re-inventada e os usos da memória estavam voltados às celebrações de acontecimentos e símbolos que representavam a comemoração de um passado legitimador de uma “essência nacional”, da moral e da família(i).

Os museus também estavam envolvidos nas disputas pela memória, pois através das suas exposições, dos seus objetos e das suas práticas sociais, os museus históricos constroem uma história da nação, que sempre é retomada como tradição quando se faz necessário provocar o espírito nacionalista. E a História, como mestra da vida, era fundamental na conquista dos corações juvenis que eram convidados ao encantamento e à construção de uma admiração pelo Museu de História, o desenvolvimento de um gosto atravessado pela sacralidade e pelo reforço ao respeito a esses símbolos da nação, referências do patriotismo. Amar a história era amar a pátria?

Nesse sentido, era aplicado o trabalho educativo do programa de dinamização. Havia uma História a ser transmitida de maneira expositiva, que estaria pronta para ser acatada e reproduzida. Esse era o método valorizado para atrair o público jovem ao museu, a denominada pedagogia do dedo em riste ou educação bancária. Essa prática ainda está presente em muitos dos nossos museus de história ou de arte. O debate em torno do museu(ii) como lugar de reflexão sobre os problemas sociais e ainda como laboratório da história pautado na construção de uma relação de diálogo com a comunidade é do mesmo período e vem, com o passar dos anos, ganhando mais força conceitual, mais adeptos e mais pesquisas. Então, em que consiste o trabalho de mediação quando a proposta é o diálogo construtivo? Como fazer desse lugar de memória um espaço de problematização da vida?

O próprio diretor do Museu Histórico e Antropológico do Ceará mandou fotografar os objetos e as salas em exposição, montou um conjunto de aproximadamente oitenta slides coloridos para compor uma apresentação. Esse gesto produziu um recorte, uma apropriação simbólica daqueles objetos e formou uma coleção sobre o acervo, que passaria, posteriormente, a fazer parte das coleções do Museu do Ceará. Com esse material em mãos, o diretor agendou visitas, esteve em diferentes escolas da cidade de Fortaleza e não se esqueceu de agendar também com os jornais da cidade para registrar publicamente as suas ações museais. Quando chegava às escolas, organizava seu projetor e palestrava com os estudantes, partindo dos objetos-biografados(iii) para falar das personalidades da história do Ceará ou dos seus acontecimentos. Depois da apresentação, convidava a platéia para visitar o Museu Histórico e Antropológico do Ceará.

No Brasil, inicialmente, foram os museus históricos que trouxeram a preocupação com a formação de coleções que narrassem uma história nacional, as quais foram organizadas dentro da perspectiva de seus fundadores. Nessa preocupação, já existia uma intenção educativa para com o público: contar a história do Brasil. Cada museu acreditava estar expondo da maneira mais fiel e, assim, o público visitaria o museu para comprovar a existência da história. Nesse início, os museus foram se formando, constituindo suas coleções através das doações de objetos da cultura material. Os museus são lugares de produção de imortalidade.(iv)

No entanto,

(...) o período subseqüente à II guerra mundial marcou o início de uma transformação qualitativa e quantitativa nos processos de activação patrimonial, fruto de uma nova sensibilidade em face aos referentes culturais potencialmente patrimonializáveis, conferindo novos usos e sentidos a objectos, modos de vida, saberes e lugares. A procura da autenticidade e da tradição configura-se, assim, como uma característica distintiva das novas formas de consumo cultural, às quais o patrimônio e os museus não permaneceram indiferentes.(v)

Os museus, a partir da segunda metade do século XX, começaram a mudar seus focos de atuação, desviaram um pouco a centralidade nos objetos e passaram a direcionar suas ações ao grande público. As preocupações estavam relacionadas à divulgação, ao nível das informações contidas nas exposições, à educação e à formação de novos freqüentadores, ao estabelecimento de um discurso autorizado sobre respeito ao patrimônio cultural e, ainda, com a construção / destruição de uma distinção culta(vi).

O ato de deslocar os objetos do museu, que já haviam perdido seu valor de uso, classificados como bens culturais, apropriados numa fotografia e, por esses motivos, redimensionados no espaço, quando projetados por uma luz, e que estavam inseridos em um sistema próprio de organização, produzia uma metamorfose geradora de um novo museu. Para Malraux, qualquer obra que pudesse ser fotografada pertenceria ao seu Museu Imaginário. As possibilidades de relações eram infinitas, como num jogo de similitudes, era possível encontrar, segundo ele, estilos de unicidade entre obras de técnicas e períodos distintos. A ação do professor de história da arte ao levar à sua sala de aula uma caixa de slides a fim de apresentar uma organização e uma leitura da arte aos estudantes era um método constitutivo do museu de Malraux.(vii)

Seria essa prática de dinamização um Museu Imaginário? Todo o investimento em tornar o Museu Histórico e Antropológico do Ceará um espaço conhecido na cidade pelos seus estudantes e visitado por um maior número de pessoas consistia em uma ação inovadora no campo da museologia. Mesmo cheia de contradições, trata-se de uma importante contribuição para a divulgação nas escolas e para a construção de uma maneira de visitar, anotando as legendas dos objetos e nomeando isso de pesquisa. Note-se que muitas escolas que receberam a visita com a projeção dos slides do Museu mantêm, até hoje, na sua agenda, pelo menos uma visita anual ao Museu do Ceará. No entanto, ficava faltando o estímulo ao desenvolvimento da imaginação criadora com o uso dos jogos de similitudes e a produção de relações entre os objetos, pois os estudantes não eram convidados a questionar a construção daquela história, eram reunidos para serem fisgados pelo amor à pátria.

As iniciativas de produção de diálogo com o público são de diferentes envergaduras e podem estar focadas somente no público de turistas, como era o caso do Museu Histórico e Antropológico do Ceará antes do Projeto Capistrano de Abreu. Por poder construir uma relação com a comunidade na cidade onde o Museu está situado, esse diálogo deve ser estabelecido compreendendo as potencialidades de participação dos diferentes grupos sociais de cada lugar. Não estando mais limitado apenas a transmitir um conteúdo, esse estabelecimento deve convidar à reflexão e à produção de um patrimônio cultural. Os museus são responsáveis pela construção de memórias em cada uma das atividades que podem ser desenvolvidas pelos seus trabalhadores e, por esse motivo, o diálogo e o compartilhamento de idéias e ações devem estar garantidos, pois é desse encontro que depende a qualidade do trabalho com o público.
__________
i CANCLINI, Nestor. Culturas Híbridas. São Paulo: Edusp, 2000.
ii Para conhecer mais ver os seguintes documentos produzidos pelo pensamento museológico:
Mesa Redonda de São Tiago, Chile 1971; Carta de Quebec de 1984 e
Subsídios para a implantação de uma política museológica brasileira, 1976 produzido
pelo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais IJNPS são alguns exemplos destacáveis
sobre o tema.
iii O objeto-biografado é aquele objeto da cultura material que pertence ao conjunto do
acervo de um Museu não pelas suas características de objeto, mas por ter pertencido
a alguma personalidade considerada de valor histórico pela sociedade. Conferir em
RAMOS, Francisco Régis Lopes. A danação dos objetos – Chapecó SC: Argos, 2004.
iv ABREU, Regina. A Fabricação do imortal: Memória, história e estratégias de consagração
no Brasil. Rio de Janeiro, Rocco: Lapa, 1996.
v ANICO, Marta. A pós-modernização da cultura: patrimônio e museus na contemporaneidade.
IN: Revista Horizontes antropológicos, Porto Alegre, ano 11, n 23, p 71-86,
jan/jun 2005.
vi BOURDIEU, P.; DARBEL, A. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu
público – São Paulo, Edusp e Kouk, 2003.
vii MALRAUX, André. O Museu Imaginário – Portugal, Edições 70, 2000.

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ISSN da publicação Dialogos entre Arte e Público

1983-9960

Relembrando o 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2008 - IRB

O 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público, organizado por André Aquino (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e tendo como equipe Gabriela da Paz, Mércia Siqueira, Cristiane Mabel Medeiros e eu, aconteceu de modo muito gratificante.

Houveram mesas redondas, laboratórios metodológicos, videocasos e uma publicação.

Os palestrantes (Alemberg Quidins/CE, Stela Barbieri/SP, Juliana Prado /RJ, Cayo Honorato/SP, Zozilena Froz/PI, Narciso Telles/MG e Fernado Azevedo/PE) expuseram seus pontos de vistas (no auditório da Universidade Católica de Pernambuco, um de nossos apoiadores) trazendo-nos questionamentos válidos para repensarmos sobre nossas práticas tornando assim a possibilidade de diálogos com o público presente.

Os laboratórios metodológicos foi uma ação pensada por Nara Galvão, Joana D'Arc (Administradora e Coordenadora geral do educativo, consecutivamente, de um de nossos apoiadores, o Instituto Ricardo Brennand) e André Aquino como modo de experimentarmos na prática os discursos de nossos palestrantes Narciso Telles, Juliana Prado, Cayo Honorato e Zozilena Froz que se dividiram com grupos de participantes pelos espaços expositivos do museu citado e dialogou a prática com o público a partir das experiências das pesquisas/ações de cada um.

Os videocasos foram mostrados no último dia e se trataram de vídeos feitos pela Gabriela da Paz, de curta duração (de 4 a 7 minutos cada), que mostram ações que acontecem aqui na cidade do Recife e que lidam com as diversas linguagens artísticas travando o diálogo entre a Arte e a cidadania com as crianças e adolescentes.

Como tem sido desde o primeiro encontro, trabalhamos sempre em cima da frase "(...) dos diálogos que temos, aos diálogos que queremos (...)", e a publicação Caderno de Textos Diálogos entre Arte e Público não podia de estar de fora desse discurso. Como editor acidental, posso assim dizer convidamos profissionais de áreas diversas como História, Comunicações, Antropologia, Música, Circo, Pedagogia, Teatro, Sociologia, Museologia e Arte/Educação para dialogar suas experiências. Afinal, encontramos conexões e até possíveis soluções, para as nossas articulações dialogais entre a arte e o público em cada elemento que nos cerca presentes nas diversas áreas.

Para conhecer os videocasos, ler os artigos, os ver algumas imagens do evento, vocês podem acessar esse blog que criamos divulgando notícias e tendo o material sempre on-line.

Abraços,
Anderson Pinheiro
Arte-educador

Relembrando o 4o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2009 - MUHNE

O 4º Encontro Diálogos entre Arte e Público, aconteceu nos dias 05 e 06 de outubro de 2009 no Museu do Homem do Nordeste sob organização e coordenação de Regina Buccini (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e Anderson Pinheiro (Articulador da Rede de Educadores em Museus de Pernambuco), a partir de projeto idealizado e organizado por André Aquino.

O encontro promoveu a discussão e a divulgação de pesquisas e experiências que vão ao encontro da potencialização do inter-relacionamento entre arte e público, reunindo profissionais que, atuando em diferentes contextos de mediação cultural, possuam trabalhos de referência na área.

Nesta edição, o encontro propõe o seguinte questionamento “Educadores entre museus e salas de aula: que diálogos são esses?”, a partir do qual busca refletir acerca das estratégias colaborativas que agregam tanto os educadores que atuam em instituições culturais, como os educadores cuja atuação se dá no campo da educação formal.

Com essa discussão pretende-se colaborar para a construção de novas e mais consolidadas parcerias entre esses atores, responsáveis pela dinamização da democratização cultural.

05 de outubro de 2009

| Laboratório Metodológico

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação a partir do espaço expositivo do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.

| Primeiro Diálogo

Debate: Formação de educadores entre museus e sala de aula.

Partindo de algumas questões pertinentes quanto à formação do educador de museu/mediador cultural e do educador de sala de aula/professor, as suas principais queixas e as possibilidades de efetuar parcerias entre ambos, o Primeiro Diálogo será direcionado, através das experiências das palestrantes em conjunto com as vivências com o público no Laboratório Metodológico, na busca de uma visualização sobre quais os diálogos que são possíveis de serem executados entre as partes envolvidas. Tentando assim compreender quais os melhores meios de encontrar conexões de atividades/ações desses educadores e suas formações recebidas durante os encontros pedagógicos nos museus.

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Mediação: Joana D’arc de Souza Lima (PE)

06 de outubro de 2009

| Oficina: Mediações intermidiáticas em vivências estético-digitais.

Convidada: Fernanda Cunha (GO)

Sinopse: O objetivo da oficina é proporcionar experiências intermidiáticas através da inter-relação dos meios digitais e não-digitais como mediadores nas vivências estético-digitais.

| Laboratório Metodológico

Convidada: Renata Bittencourt (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação problematizando a inserção de recursos tecnológicos como campo de possibilidades de mediação em espaços expositivos a partir da nova exposição do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.




| Segundo Diálogo

Debate: Interseções entre mediação cultural e linguagens midiáticas

O uso recorrente das novas tecnologias no cotidiano tem nos levado a deparar com as possibilidades pedagógicas presente em seus processos dialogais. Por outro lado, percebemos como a inserção do uso dessas tecnologias como registro de visita a espaços museais e culturais tem transtornado as ações de mediação desses setores educativos. Às vezes, esses recursos tecnológicos fazem parte da própria expografia museográfica servindo como recurso propositivo de mediação. Partindo dessas situações o Segundo Diálogo pretende dialogar com as ações efetuadas tanto na Oficina como no Laboratório Metodológico sobre das novas tecnologias como recursos educacionais, seja no espaço escolar como no museal, refletindo sobre a possibilidade de utilizá-los como recursos propositivos complementar para a mediação/educação.

Convidadas: Fernanda Cunha (GO) | Renata Bittencourt (SP)

Mediação: Sandra Helena Rodrigues (PE)

| Lançamento da Publicação

Diálogos entre Arte e Público - Anderson Pinheiro (PE)

As idéias presentes nos diálogos de cada autor e autora demonstram, através de artigos, ensaios e relatos de experiências, ações que são possíveis de serem executadas pelos Educadores entre museus e sala de aula. Essa segunda edição da publicação foi organizada também com muito diálogo de modo que fosse possível invadir o lugar de cada um e construir um espaço coletivo que são aqui apresentados em quatro eixos, “Imagem e Tecnologia”, “Mediação e Arte Contemporânea”, “Educadores entre museus e sala de aula” e “A Criança e o Museu”.