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Educação em Museus: termos que revelam preconceitos
Ana Mae Barbosa
Educação em Museus: termos que revelam preconceitos
Ana Mae Barbosa
Para os alunos e professores
da Especialização em Arte/Educação
da UNICAP/Recife/2008.
I - O termo mais revelador do preconceito contra Educação nos Museus é o de monitor para aquele profissional encarregado de visitas, recebendo escolas e professores.
Geralmente são educadores formados em Universidades, nos cursos de História, de Arte, de Educação e até mesmo de Comunicação. Eles são educadores, pois tratam de ampliar a relação entre o museu e o público, ou melhor, são mediadores entre a obra de arte e o público. Monitor é quem ajuda um professor na sala de aula ou é o que veicula a imagem gerada no HD, no caso de computadores. Atrelada à palavra, vai a significação de veículo e de falta de autonomia e de poder próprio.
Mas, a paisagem social de “monitores de museu” está mudando e a função, atraindo jovens saídos das classes médias que não querem se sujeitar ao sistema, ensinando em escolas. Para eles é muito mais prazeroso e significativo trabalhar em museus, além de que podem agüentar a incerteza econômica da profissão. Alguns museus, os mais intelectualizados, em respeito à nova classe social que neles trabalha, estão conferindo mais dignidade designativa à profissão e chamando-os de EDUCADORES, titulo ao qual fazem jus.
Mas, em mega exposições como a Bienal de São Paulo eles continuama ser chamados de monitores. O trabalho na Bienal é duro demais, são muitas horas e paga-se pouco. Como resultado, atrai estudantes universitários de classes sociais mais baixas, por isso a elite se dá bem ao desqualificá-los como meros monitores ou ao fazê-los vestir uma camiseta que traz nas costas designação mais desqualificante ainda - “tira dúvidas”, como foi feito na Bienal de 1998. Em outra Bienal, resolveram reservar a “monitoria” para os alunos da Fundação Armando Álvares Penteado. Os alunos desta escola, uma das mais caras do Brasil, pouco se interessaram. A Bienal foi obrigada a aceitar alunos de Escolas de Arte da periferia e das universidades públicas como USP e UNESP, injustamente consideradas escolas de ricos. Essa é uma propaganda da direita contra a universidade pública. Eu ensinei 34 anos na USP e nunca tive um(a) aluno(a) rico(a).
II - Visita guiada é outro termo preconceituoso. Pressupõe a cegueira do público e a ignorância total. Uso há vinte anos o termo visita comentada e, por algum tempo, chamei visita dialogada. Preferi comentada, porque o visitante pensa que não vai se comprometer, vai só ouvir e, no processo, engaja-se sem ter tido chance de se recusar ao engajamento. O diálogo significa participação do visitante também e, declarado de pronto, pode amedrontar. Ninguém quer se confrontar com sua própria ignorância.
Contudo, o sentido epistemológico de uma visita com educador de museu e qualquer público tem sempre que ser o diálogo.
Ao público resta escolher: se você quer visitar o Museu sozinho e calado, como muitas vezes tenho necessidade, tudo bem. Quando meu marido estava no hospital eu saía de lá desesperada por consolo e corria para o museu mais próximo, ansiando por não encontrar ninguém e ficar sozinha com as obras. Nessa ocasião, uma exposição de Lívio Abramo no Centro Cultural Tomie Ohtake me agasalhou muitas vezes.
Mas, se alguém quiser dialogar, chama-se um educador para, juntos, verem a exposição, comentarem, trocarem idéias e sensações sobre a obra e informações sobre a exposição. Em São Paulo, os únicos lugares em que me sinto à vontade para fazer isto são o Centro Cultural Banco do Brasil e o Itaú Cultural. Outro dia pedi um educador no Itaú, fiquei feliz, pois achei que ele não me reconheceu e, no final, até dei meu cartão ou meu nome a ele, achando que ele nunca ouvira falar em mim. Foi uma ótima visita, falei de curadorias que fiz, comentamos sobre aquilo de que mais gostávamos na exposição, foi um diálogo mais que agradável, foi recompensador e tive conhecimento de detalhes do processo decriação de algumas obras, fato que melhorou minha recepção a elas. Saí pensando que bom, não enganei o educador, porque demonstrei ser do ramo, mas não disse que era arte/educadora, o que podia tê-lo inibido. Dias depois, recebi um e-mail de Renata Bittencourt, diretora do Educativo do Itaú. Entre outras coisas, ela me dizia que o educador tinha gostado muito de nossa conversa. Fomos bons atores, fingimos bem.
III- Curadoria Educativa não é propriamente preconceituoso, mas é usado para dissimular o preconceito. É só um meio artificial de tentar conferir a mesma importância da educação à curadoria de obras de arte. Para mim, a importância é a mesma, mas não é assim que a elite que comanda os museus pensa. Daí o artifício “curadoria educativa”, muito usado por quem organiza cursos, seminários etc. e quer ser importante.
Em primeiro lugar, seria interessante analisar por que no Brasil as instituições procuram dar “nomes - fantasia”, como dizem os farmacêuticos, à Educação.
Poucas são as instituições como museus e centros culturais que têm a coragem de designar seus departamentos voltados para ensino, divulgação ou extensão simplesmente de Departamento, Setor ou Divisão de Educação.
Isso não ocorre no Primeiro Mundo. Houve um tempo em que a França escondia o trabalho educacional de suas instituições sob o nome de Ação Cultural.
Era a síndrome pós 68 de rejeição à Educação.
Hoje assumem o papel educacional e a designação educação com orgulho e com a consciência de que a principal função da cultura é educar, como vem apregoando Jack Lang, que já ocupou com muito sucesso o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação. Porque será que temos tanta vergonha de nos aliarmos à educação e adotamos expressões desviantes, maquiadoras, como ação educativa, ação cultural, curadoria educativa (quando se trata simplesmente de organização de cursos, congressos, seminários) e outras mais limitantes e burocratizadas, como serviço educativo, quando o que fazemos é especificamente Educação?
O desprezo pela educação que caracteriza as entidades culturais de elite é ainda maior quando essa entidade se dedica à arte, especialmente às artes plásticas.
Parece que, em se tratando de arte, quanto mais protegê-la da contaminação
com Educação, mais valiosa será.
O pior é que o nojo por educação ataca com uma freqüência enormeos próprios professores de arte de faculdades e universidades. Não é raro, no Brasil, que artistas professores(as) universitários(as), em discussões sobre ensino universitário ou em congressos de arte/educação, em geral, comecem ou terminem por afirmar enfaticamente que não entendem de Educação.
Como ensinam, por que ensinam, a quem ensinam não os interessa.
Deveriam se interessar por essas questões, ou ao artista basta sua obra para ensinar? Além disso, disseminam o slogan modernista de que arte não se ensina.
Sejamos radicais: nada se ensina e tudo se aprende, depende do diálogo, da interlocução, da intermediação, da necessidade e do interesse.
A realidade é que a maioria dos artistas, quando ensinam arte, fazem-no para complementar orçamento. Ao desprezo pela educação, característico daqueles que se dedicam às atividades de elite e não são ricos, acrescenta-se uma certa vergonha por não ser campeão de vendas, o que lhe permitiria viver exclusivamente da mercantilização de seus trabalhos.
Na cultura artística brasileira, educação é considerada sinônimo de mediocridade. Será pela má qualidade de nosso ensino? Talvez não, porque os que têm horror à educação “não entendem de educação”, não sabem julgar o que é qualidade em educação, nem em relação ao ensino que praticam. Acredito que foi a ação repressora da ditadura e os baixos salários que criminalizaram a educação no Brasil.
Na sociedade neoliberal só merece respeito quem tem dinheiro para consumir. No mundo das artes plásticas, os que importam vestem-se bem, vão aos cabeleireiros de luxo, podem comprar obras de arte, podem influir ou aspiram a influir em conselhos de galerias e museus e, principalmente, nas decisões das instituições que financiam projetos e dão bolsas. Qualquer defesa da educação levanta a suspeita de pobreza no bolso e, por raciocínio primário, no espírito. É a lógica capitalista.
Para não parecer injusta, quero lembrar que nos últimos anos empresas e fundações ligadas a empresas ou ao capital “desnacionalizado”, alertadas pelas nações centrais sobre os perigos endêmicos da miséria na sociedade que os circunda , têm criado programas de apoio financeiro a projetos de educação para os pobres. Entretanto, as razões neoliberais se impõem e limitam a ajuda a projetos que possam em curto prazo se autofinanciar. A verdade é que aqueles que são mesmo necessários nunca poderão se autofinanciar, porque não são comerciais, enquantomuitos projetos equivocados que colonizam mais ainda a pobreza servem de marketing para pessoas e empresas financiadoras.
Mas, voltemos às instituições culturais. No Brasil, em museus e centros culturais, a educação, embora glamourizada por outro nome, é sempre a última na escala de prioridades e valores hierárquicos.
Curadoria Educativa é mais um artifício para nominalmente esconder que devemos tratar em museus de EDUCAÇÃO. Considero o termo curadoria educativa pedante, revelando falta de coragem de se enfrentar o que importa: EDUCAÇÃO. É patética a tentativa de se aliar a um termo de prestígio nos museus para fazer a EDUCAÇÃO ser engolida goela abaixo pelos capitalistas. É tentativa de enganação da EDUCAÇÃO.
Estudar curadoria, sim, os cursos universitários deviam ter esta matéria no currículo, para que os jovens não confiassem tanto nos desígnios dos curadores. Aprenderiam que muito curador é apenas um político da arte. Privilegia uns para ser privilegiado por outros. Defendo até que se deveria fazer experiências de curadoria em sala de aula do ensino fundamental.
Sobre curadoria na sala de aula, houve um trabalho muito interessante na Escola da Vila feito por Rosa Iavelberg, mas não sei se ela escreveu acerca. Esse processo foi muito bom e levou os alunos a preparar suas próprias exposições e assumir papéis de curador, assistente de curador, designer de espaço etc.
Ana Amália Barbosa também fez um excelente trabalho com os alunos adultos (na maioria professores) do NACE/ECA/USP. Era um curso com três componentes: fazer arte, leituras de obras e do campo de sentido da arte e contextualização (metodologias). Os alunos do componente fazer arte, ao fim do ano, tinham que organizar uma exposição de seus trabalhos em galeria de arte comercial ou museu. Tinham que conseguir a galeria, escolher os trabalhos e organizar o discurso da exposição, fazer os convites e folder (design gráfico), fazer divulgação e montagem, projetar as atividades para educação etc. A exposição aconteceu e o texto que a explica foi impresso no folder. A tese de doutorado de Fabio Rodrigues, na Universidade de Sevilha, fala desse processo e da exposição.
Mais um outro exemplo é a excelente dissertação de Fabíola Burigo, que trata de uma galeria de arte dentro da escola para trabalhos de artistas e dos alunos também. Essas aproximações com curadoria são valiosas, pois promovem o pensamento crítico.
Curadoria Educativa para substituir Educação em museus ou organização de cursos é pedantismo.
Geralmente são educadores formados em Universidades, nos cursos de História, de Arte, de Educação e até mesmo de Comunicação. Eles são educadores, pois tratam de ampliar a relação entre o museu e o público, ou melhor, são mediadores entre a obra de arte e o público. Monitor é quem ajuda um professor na sala de aula ou é o que veicula a imagem gerada no HD, no caso de computadores. Atrelada à palavra, vai a significação de veículo e de falta de autonomia e de poder próprio.
Mas, a paisagem social de “monitores de museu” está mudando e a função, atraindo jovens saídos das classes médias que não querem se sujeitar ao sistema, ensinando em escolas. Para eles é muito mais prazeroso e significativo trabalhar em museus, além de que podem agüentar a incerteza econômica da profissão. Alguns museus, os mais intelectualizados, em respeito à nova classe social que neles trabalha, estão conferindo mais dignidade designativa à profissão e chamando-os de EDUCADORES, titulo ao qual fazem jus.
Mas, em mega exposições como a Bienal de São Paulo eles continuama ser chamados de monitores. O trabalho na Bienal é duro demais, são muitas horas e paga-se pouco. Como resultado, atrai estudantes universitários de classes sociais mais baixas, por isso a elite se dá bem ao desqualificá-los como meros monitores ou ao fazê-los vestir uma camiseta que traz nas costas designação mais desqualificante ainda - “tira dúvidas”, como foi feito na Bienal de 1998. Em outra Bienal, resolveram reservar a “monitoria” para os alunos da Fundação Armando Álvares Penteado. Os alunos desta escola, uma das mais caras do Brasil, pouco se interessaram. A Bienal foi obrigada a aceitar alunos de Escolas de Arte da periferia e das universidades públicas como USP e UNESP, injustamente consideradas escolas de ricos. Essa é uma propaganda da direita contra a universidade pública. Eu ensinei 34 anos na USP e nunca tive um(a) aluno(a) rico(a).
II - Visita guiada é outro termo preconceituoso. Pressupõe a cegueira do público e a ignorância total. Uso há vinte anos o termo visita comentada e, por algum tempo, chamei visita dialogada. Preferi comentada, porque o visitante pensa que não vai se comprometer, vai só ouvir e, no processo, engaja-se sem ter tido chance de se recusar ao engajamento. O diálogo significa participação do visitante também e, declarado de pronto, pode amedrontar. Ninguém quer se confrontar com sua própria ignorância.
Contudo, o sentido epistemológico de uma visita com educador de museu e qualquer público tem sempre que ser o diálogo.
Ao público resta escolher: se você quer visitar o Museu sozinho e calado, como muitas vezes tenho necessidade, tudo bem. Quando meu marido estava no hospital eu saía de lá desesperada por consolo e corria para o museu mais próximo, ansiando por não encontrar ninguém e ficar sozinha com as obras. Nessa ocasião, uma exposição de Lívio Abramo no Centro Cultural Tomie Ohtake me agasalhou muitas vezes.
Mas, se alguém quiser dialogar, chama-se um educador para, juntos, verem a exposição, comentarem, trocarem idéias e sensações sobre a obra e informações sobre a exposição. Em São Paulo, os únicos lugares em que me sinto à vontade para fazer isto são o Centro Cultural Banco do Brasil e o Itaú Cultural. Outro dia pedi um educador no Itaú, fiquei feliz, pois achei que ele não me reconheceu e, no final, até dei meu cartão ou meu nome a ele, achando que ele nunca ouvira falar em mim. Foi uma ótima visita, falei de curadorias que fiz, comentamos sobre aquilo de que mais gostávamos na exposição, foi um diálogo mais que agradável, foi recompensador e tive conhecimento de detalhes do processo decriação de algumas obras, fato que melhorou minha recepção a elas. Saí pensando que bom, não enganei o educador, porque demonstrei ser do ramo, mas não disse que era arte/educadora, o que podia tê-lo inibido. Dias depois, recebi um e-mail de Renata Bittencourt, diretora do Educativo do Itaú. Entre outras coisas, ela me dizia que o educador tinha gostado muito de nossa conversa. Fomos bons atores, fingimos bem.
III- Curadoria Educativa não é propriamente preconceituoso, mas é usado para dissimular o preconceito. É só um meio artificial de tentar conferir a mesma importância da educação à curadoria de obras de arte. Para mim, a importância é a mesma, mas não é assim que a elite que comanda os museus pensa. Daí o artifício “curadoria educativa”, muito usado por quem organiza cursos, seminários etc. e quer ser importante.
Em primeiro lugar, seria interessante analisar por que no Brasil as instituições procuram dar “nomes - fantasia”, como dizem os farmacêuticos, à Educação.
Poucas são as instituições como museus e centros culturais que têm a coragem de designar seus departamentos voltados para ensino, divulgação ou extensão simplesmente de Departamento, Setor ou Divisão de Educação.
Isso não ocorre no Primeiro Mundo. Houve um tempo em que a França escondia o trabalho educacional de suas instituições sob o nome de Ação Cultural.
Era a síndrome pós 68 de rejeição à Educação.
Hoje assumem o papel educacional e a designação educação com orgulho e com a consciência de que a principal função da cultura é educar, como vem apregoando Jack Lang, que já ocupou com muito sucesso o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação. Porque será que temos tanta vergonha de nos aliarmos à educação e adotamos expressões desviantes, maquiadoras, como ação educativa, ação cultural, curadoria educativa (quando se trata simplesmente de organização de cursos, congressos, seminários) e outras mais limitantes e burocratizadas, como serviço educativo, quando o que fazemos é especificamente Educação?
O desprezo pela educação que caracteriza as entidades culturais de elite é ainda maior quando essa entidade se dedica à arte, especialmente às artes plásticas.
Parece que, em se tratando de arte, quanto mais protegê-la da contaminação
com Educação, mais valiosa será.
O pior é que o nojo por educação ataca com uma freqüência enormeos próprios professores de arte de faculdades e universidades. Não é raro, no Brasil, que artistas professores(as) universitários(as), em discussões sobre ensino universitário ou em congressos de arte/educação, em geral, comecem ou terminem por afirmar enfaticamente que não entendem de Educação.
Como ensinam, por que ensinam, a quem ensinam não os interessa.
Deveriam se interessar por essas questões, ou ao artista basta sua obra para ensinar? Além disso, disseminam o slogan modernista de que arte não se ensina.
Sejamos radicais: nada se ensina e tudo se aprende, depende do diálogo, da interlocução, da intermediação, da necessidade e do interesse.
A realidade é que a maioria dos artistas, quando ensinam arte, fazem-no para complementar orçamento. Ao desprezo pela educação, característico daqueles que se dedicam às atividades de elite e não são ricos, acrescenta-se uma certa vergonha por não ser campeão de vendas, o que lhe permitiria viver exclusivamente da mercantilização de seus trabalhos.
Na cultura artística brasileira, educação é considerada sinônimo de mediocridade. Será pela má qualidade de nosso ensino? Talvez não, porque os que têm horror à educação “não entendem de educação”, não sabem julgar o que é qualidade em educação, nem em relação ao ensino que praticam. Acredito que foi a ação repressora da ditadura e os baixos salários que criminalizaram a educação no Brasil.
Na sociedade neoliberal só merece respeito quem tem dinheiro para consumir. No mundo das artes plásticas, os que importam vestem-se bem, vão aos cabeleireiros de luxo, podem comprar obras de arte, podem influir ou aspiram a influir em conselhos de galerias e museus e, principalmente, nas decisões das instituições que financiam projetos e dão bolsas. Qualquer defesa da educação levanta a suspeita de pobreza no bolso e, por raciocínio primário, no espírito. É a lógica capitalista.
Para não parecer injusta, quero lembrar que nos últimos anos empresas e fundações ligadas a empresas ou ao capital “desnacionalizado”, alertadas pelas nações centrais sobre os perigos endêmicos da miséria na sociedade que os circunda , têm criado programas de apoio financeiro a projetos de educação para os pobres. Entretanto, as razões neoliberais se impõem e limitam a ajuda a projetos que possam em curto prazo se autofinanciar. A verdade é que aqueles que são mesmo necessários nunca poderão se autofinanciar, porque não são comerciais, enquantomuitos projetos equivocados que colonizam mais ainda a pobreza servem de marketing para pessoas e empresas financiadoras.
Mas, voltemos às instituições culturais. No Brasil, em museus e centros culturais, a educação, embora glamourizada por outro nome, é sempre a última na escala de prioridades e valores hierárquicos.
Curadoria Educativa é mais um artifício para nominalmente esconder que devemos tratar em museus de EDUCAÇÃO. Considero o termo curadoria educativa pedante, revelando falta de coragem de se enfrentar o que importa: EDUCAÇÃO. É patética a tentativa de se aliar a um termo de prestígio nos museus para fazer a EDUCAÇÃO ser engolida goela abaixo pelos capitalistas. É tentativa de enganação da EDUCAÇÃO.
Estudar curadoria, sim, os cursos universitários deviam ter esta matéria no currículo, para que os jovens não confiassem tanto nos desígnios dos curadores. Aprenderiam que muito curador é apenas um político da arte. Privilegia uns para ser privilegiado por outros. Defendo até que se deveria fazer experiências de curadoria em sala de aula do ensino fundamental.
Sobre curadoria na sala de aula, houve um trabalho muito interessante na Escola da Vila feito por Rosa Iavelberg, mas não sei se ela escreveu acerca. Esse processo foi muito bom e levou os alunos a preparar suas próprias exposições e assumir papéis de curador, assistente de curador, designer de espaço etc.
Ana Amália Barbosa também fez um excelente trabalho com os alunos adultos (na maioria professores) do NACE/ECA/USP. Era um curso com três componentes: fazer arte, leituras de obras e do campo de sentido da arte e contextualização (metodologias). Os alunos do componente fazer arte, ao fim do ano, tinham que organizar uma exposição de seus trabalhos em galeria de arte comercial ou museu. Tinham que conseguir a galeria, escolher os trabalhos e organizar o discurso da exposição, fazer os convites e folder (design gráfico), fazer divulgação e montagem, projetar as atividades para educação etc. A exposição aconteceu e o texto que a explica foi impresso no folder. A tese de doutorado de Fabio Rodrigues, na Universidade de Sevilha, fala desse processo e da exposição.
Mais um outro exemplo é a excelente dissertação de Fabíola Burigo, que trata de uma galeria de arte dentro da escola para trabalhos de artistas e dos alunos também. Essas aproximações com curadoria são valiosas, pois promovem o pensamento crítico.
Curadoria Educativa para substituir Educação em museus ou organização de cursos é pedantismo.
Um comentário:
Concordo com as afirmações de Ana Mae
Barbosa no texto "Diálogos entre Arte
e Público". Trabalho como monitor no
Palacete das Artes (Museu Rodin BA) e
percebo que atuo de fato como educa-
dor e, para ter um bom desempenho,te-
nho que pesquisar muito sobre a vida
e a obra de Rodin, Camile Claudel,mo-
delagem, moldagem e fundição de es-
culturas, além de História da Arte.
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