Dialogue + Dialoog + 對話 + Dialog + Диалог + Διάλογος + 대화

[do grego diálogos, pelo latim dialogus] – 1. Entendimento através da palavra, conversação, colóquio, comunicação. 2. Discussão ou troca de idéias, conceitos, opiniões, objetivando a solução de problemas e a harmonia. [dialogosentrearteepublico@gmail.com]

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Diálogos entre Arte e Público no Museu
[Regina Batista]

“Deixem que as obras de arte manifestem
sua eloqüência natural e elas serão compreendidas
por um número crescente de pessoas;
este método será mais eficaz do que a influência
exercida por todos os guias, conferências e discursos”.
F. SCHIMIDT-DEGENE,
“Musées” in Les Cahiers de la république
dês lettres, des sciences et des arts, XIII.

Participar do Seminário Diálogos entre Arte e Público no Museu abre mais uma vez a oportunidade para o debate sobre um tema que se tornou recorrente na esfera da ação educativa e que envolve a dialética entre arte e público. A questão ora destacada apresenta-se como emblemática e compreende, por certo, o exame de como acontece esse diálogo no espaço do Museu, os parâmetros estabelecidos e o trabalho de mediação como articulador dessas três áreas.


Nesse texto, elaborado para o debate entre colegas museólogos, professores e arte/educadores, focalizo uma tendência cada vez mais presente nos museus e internacionalmente reconhecida de que a ação educativa e cultural é de fundamental importância para o estabelecimento de processos de apropriação da arte e de acesso à cultura, e, portanto, recurso pedagógico dos mais valiosos para o diálogo entre arte e público.

Vale lembrar que é interesse cada vez maior e recomendação da Política Nacional de Museus ampliar a acessibilidade para diferentes públicos e as análises dessas medidas, notadamente quando as condições de participação e diálogo ainda são muito adversas nos museus brasileiros. Ao mesmo tempo é sempre oportuno estabelecer uma relação entre o meu discurso e algumas das minhas experiências na coordenação de ações educativas para as exposições do Salão Pernambucano de Artes Plásticas 2000 e a Exposição Eckhout, em 2002, no Instituto Ricardo Brennand.


Com isso pretendo contribuir para que museólogos, artistas, professores e arte/educadores possam, juntos, construir uma condição dialogal entre as artes e os diferentes públicos nos museus.


Inicialmente quero fazer uma pequena digressão a respeito da palavra DIÁLOGO, que permeia todo o nosso discurso, analisando a sua forma gramatical. Diálogo vem do verbo dialogar e denota a conversação, o colóquio ou, ainda, a comunicação que envolve duas ou mais pessoas, grupos e entidades com vista à solução de problemas comuns. Dessa forma, vale a questão: quais são os problemas que queremos demonstrar nesse Seminário? Que existe o Diálogo entre Arte e Público? Ou, de outro modo, o que pretendemos é apenas afirmar a existência a priori do Diálogo entre Arte e Público no Museu.


Não pretendo avançar nesses questionamentos ou levantar problemas, apenas tecer algumas conexões com o tema proposto.


Muito recentemente, os museus adotaram uma política de exposições bastante agressiva como forma de captação de recursos financeiros e até de sobrevivência. Nesse sentido ficaram à mercê de patrocinadores ávidos por publicidade, exigindo dos museus índices altíssimos de visitação o que reforçou os serviços educativos para atender a demanda de públicos nos períodos das grandes exposições; investiram em ações de mediação que permitissem iniciativas de democratização da cultura, principalmente, para o público que não freqüenta museus. Essa estratégia de expansão das atividades pedagógicas no museu demonstrou ser um caminho importante para aproximar o público da arte ou do consumo cultural. Bourdieu identifica que “a estrutura do público assíduo dos museus pode ser considerada como um indicador aproximativo do nível da informação proposta pelo museu.

Despojando-se do caráter abstrato e hermético que o manteve até bem pouco tempo, pautado na norma culta, os museus tiveram que se renovar e se fazer compreender, principalmente com o avanço e as transformações da pedagogia, ou melhor, dos sistemas e normas impostas por uma nova pedagogia, que resultaram em uma verdadeira democratização do ensino. A mediação passou, então, a ser uma metodologia facilitadora nos processos educativos empregados nos museus, especialmente nos museus de arte, junto ao público ou grupos de visitantes cada vez mais diversificados.

Tão importante quanto a mediação entre arte e público no espaço do museu, podemos considerar a transmissão da mensagem, ou seja, a linguagem comunicacional usada, como um dos meios para estabelecer a relação e o entendimento entre a arte e o sujeito/público visitante. O diálogo com a arte vai além do exercício experimental, para ser um prazer estético na vida do homem, na medida em que se pode educar alguém por meio da arte, pois ela é capaz de fazer de nós pessoas melhores e mostrar que existem muitos mundos além do nosso umbigo, Essa experiência de trabalho no campo da museologia e a compreensão do papel dos museus como espaços de formação do conhecimento e de cidadania me levaram a aprofundar minha prática, participando de congressos sobre educação em museus, e a conhecer práticas educativas internacionais de Educação Patrimonial, através dos contatos com museólogos do Museu Imperial do Rio de Janeiro, que me levaram a coordenar, no Museu do Homem do Nordeste, o projeto “Um dia no Engenho Massangana”, em 1982.


As múltiplas possibilidades do trabalho educativo no museu com evidências materiais do patrimônio cultural demonstram ser uma via de mão dupla para o desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social.


O alcance de uma ação educativa poderá vir a ser instrumento de transformação para jovens e adultos e, ao mesmo tempo, propiciar conhecimento dos seus referenciais e conteúdos culturais. Por outro lado, o acesso e o diálogo com o patrimônio cultural em eventos integrados fazem convergir os mais diversos segmentos sociais e um público numeroso e diversificado.


Exemplo dessa primeira experiência no campo de uma ação educativa coordenada, juntamente com arte/educadores e professores da rede pública de ensino, deu-se por ocasião do Salão Pernambucano de Artes Plásticas 2000, promovido pela Diretoria de Museus da Fundarpe, através de parcerias com as Secretarias de Educação e Cultura de Pernambuco, que resultou num grande intercâmbio com inúmeras instituições de ensino da rede pública e privada do Estado, atraindo um público ávido por conhecer a produção artística nacional contemporânea.


Para os patrocinadores, foi uma ótima oportunidade para divulgarem suas marcas, com espaço de destaque garantido em todos os produtos e eventos realizados. Os anunciantes optaram entre as mais diversas mídias, a exemplo de anúncios na TV, no Rádio, em blimps, banners e muitas outras formas de comunicação com o grande público.


Como a formação no campo da arte educação é específica, foi importante contar com a assessoria constante dos que fazem educação e arte/educação, pois não basta apenas querer fazer é preciso SABER FAZER.


Entendendo que outras instituições, entre elas os museus, assumem, a cada dia, mais importância na ampliação e distribuição do conhecimento, é que estabelecemos uma ação educativa orientada para o programa de exposições do Salão Pernambucano de Artes Plásticas 2000. Essa ação estimulou o interesse do espectador através de uma relação baseada na sensação da descoberta, da fruição da emoção, no encontro pessoal com o fenômeno da arte. Realizamos nossas múltiplas atividades com a ajuda de monitores, educadores e artistas, orientados para mediar a comunicação entre o público e a obra de arte, através de visitas comentadas, oficinas de arte e passeios com artistas.

Trabalhando com professores da rede pública de ensino, a Comissão de Ação Educativa do Salão elaborou uma proposta pedagógica bastante diversificada, voltada especialmente para o público infantil e juvenil, usando, para isso, métodos mais interativos e a oferta de experiências novas ao visitante com os acervos das exposições do Salão dos Premiados e Selecionados no Observatório Cultural Malakoff – Torre Malakoff, e da Retrospectiva dos Salões, no Museu do Estado de Pernambuco.

O sistema de comunicação entre o espectador e os acervos das exposições foi desenvolvido pelo grupo baseado na ação educativa dos museus, dentro da metodologia do “ensino visualizado”, capaz das mais rápidas assimilações por qualquer tipo de público. Nele, a obra de arte pode ser observada, percebida, estudada, analisada e apreendida por distintos critérios e sob diferentes conceitos, com a ajuda de material pedagógico elaborado para auxiliar professores e alunos em visita às exposições.

Nessa perspectiva de educação através da arte, assumimos a tarefa de orientar e organizar pela primeira vez o Salão Pernambucano de Artes Plásticas em 2000, voltado para a cultura e para a educação, a nosso ver, conceitos e atividades intimamente ligados e interagentes. E, ao comprometer essa ação com o entendimento da arte contemporânea brasileira, buscamos aprimorar os métodos de aprendizado, utilizando o exercício vivo de transformação do olhar e do entendimento da arte em suas diferentes interpretações.

A experiência de promover uma ação educativa e cultural para o Instituto Ricardo Brennand, por ocasião da exposição Albert Eckhout volta ao Brasil 1644 – 2002, mostrou, pelos altos índices de visitação alcançados, o quanto é necessário democratizar o conhecimento e o acesso ao nosso patrimônio cultural. Mais surpreendente e importante para os museus, o papel das práticas educativas na formação de novos públicos e na instauração de uma nova mentalidade.


O desafio é, portanto, encontrar novos enfoques e estratégias para a apresentação de exposições que permitam ao museu motivar os indivíduos a encontrar sua própria identidade e a compreender o mundo que os rodeia. Despertar a consciência cultural do público, motivá-los a aprender algo novo e ganhar o seu apoio é tarefa que só pode ser levada a cabo com a total participação e cooperação do conjunto de profissionais envolvidos com a educação e o patrimônio.

Finalizando, é necessário entender que o indivíduo torna-se senhor de si mesmo e dos seus conteúdos se lhes for permitido ter acesso a coisas, lugares, processos, acontecimentos e registros, e a garantia desse acesso representa um passo importante no processo de transformação do indivíduo em cidadão e sujeito da sua história.

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Referências Bibliográficas
GARCIA-CANCLINI, N. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2000.
GRINSPUM, D. Educação para o Patrimônio: Museu de Arte e Escola. Tese Doutorado.
USP, 2000.
SEPÚLVEDA, Luciana. A análise da parceria museu-escola como experiência social e espaço
de afirmação do sujeito. In: GOUVÊA, G., MARANDINO, M. e LEAL. M.C. (Orgs).
BOURDIEU, Pierre, Alain Darbel: O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu
público. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1978.
CURY, Marília Xavier. A comunicação museológica e a pesquisa de recepção no Museu Água
Vermelha. Caderno de Resumos da V Semana de Museus da USP. São Paulo: USP, 2005.
HOTA, M. De Lourdes ET. Al. Guia Básico de educação patrimonial. Brasília: Iphan/
Museu Imperial, 1999.
IPHAN. Política nacional de museus: relatório de gestão 2003/2004.

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ISSN da publicação Dialogos entre Arte e Público

1983-9960

Relembrando o 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2008 - IRB

O 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público, organizado por André Aquino (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e tendo como equipe Gabriela da Paz, Mércia Siqueira, Cristiane Mabel Medeiros e eu, aconteceu de modo muito gratificante.

Houveram mesas redondas, laboratórios metodológicos, videocasos e uma publicação.

Os palestrantes (Alemberg Quidins/CE, Stela Barbieri/SP, Juliana Prado /RJ, Cayo Honorato/SP, Zozilena Froz/PI, Narciso Telles/MG e Fernado Azevedo/PE) expuseram seus pontos de vistas (no auditório da Universidade Católica de Pernambuco, um de nossos apoiadores) trazendo-nos questionamentos válidos para repensarmos sobre nossas práticas tornando assim a possibilidade de diálogos com o público presente.

Os laboratórios metodológicos foi uma ação pensada por Nara Galvão, Joana D'Arc (Administradora e Coordenadora geral do educativo, consecutivamente, de um de nossos apoiadores, o Instituto Ricardo Brennand) e André Aquino como modo de experimentarmos na prática os discursos de nossos palestrantes Narciso Telles, Juliana Prado, Cayo Honorato e Zozilena Froz que se dividiram com grupos de participantes pelos espaços expositivos do museu citado e dialogou a prática com o público a partir das experiências das pesquisas/ações de cada um.

Os videocasos foram mostrados no último dia e se trataram de vídeos feitos pela Gabriela da Paz, de curta duração (de 4 a 7 minutos cada), que mostram ações que acontecem aqui na cidade do Recife e que lidam com as diversas linguagens artísticas travando o diálogo entre a Arte e a cidadania com as crianças e adolescentes.

Como tem sido desde o primeiro encontro, trabalhamos sempre em cima da frase "(...) dos diálogos que temos, aos diálogos que queremos (...)", e a publicação Caderno de Textos Diálogos entre Arte e Público não podia de estar de fora desse discurso. Como editor acidental, posso assim dizer convidamos profissionais de áreas diversas como História, Comunicações, Antropologia, Música, Circo, Pedagogia, Teatro, Sociologia, Museologia e Arte/Educação para dialogar suas experiências. Afinal, encontramos conexões e até possíveis soluções, para as nossas articulações dialogais entre a arte e o público em cada elemento que nos cerca presentes nas diversas áreas.

Para conhecer os videocasos, ler os artigos, os ver algumas imagens do evento, vocês podem acessar esse blog que criamos divulgando notícias e tendo o material sempre on-line.

Abraços,
Anderson Pinheiro
Arte-educador

Relembrando o 4o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2009 - MUHNE

O 4º Encontro Diálogos entre Arte e Público, aconteceu nos dias 05 e 06 de outubro de 2009 no Museu do Homem do Nordeste sob organização e coordenação de Regina Buccini (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e Anderson Pinheiro (Articulador da Rede de Educadores em Museus de Pernambuco), a partir de projeto idealizado e organizado por André Aquino.

O encontro promoveu a discussão e a divulgação de pesquisas e experiências que vão ao encontro da potencialização do inter-relacionamento entre arte e público, reunindo profissionais que, atuando em diferentes contextos de mediação cultural, possuam trabalhos de referência na área.

Nesta edição, o encontro propõe o seguinte questionamento “Educadores entre museus e salas de aula: que diálogos são esses?”, a partir do qual busca refletir acerca das estratégias colaborativas que agregam tanto os educadores que atuam em instituições culturais, como os educadores cuja atuação se dá no campo da educação formal.

Com essa discussão pretende-se colaborar para a construção de novas e mais consolidadas parcerias entre esses atores, responsáveis pela dinamização da democratização cultural.

05 de outubro de 2009

| Laboratório Metodológico

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação a partir do espaço expositivo do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.

| Primeiro Diálogo

Debate: Formação de educadores entre museus e sala de aula.

Partindo de algumas questões pertinentes quanto à formação do educador de museu/mediador cultural e do educador de sala de aula/professor, as suas principais queixas e as possibilidades de efetuar parcerias entre ambos, o Primeiro Diálogo será direcionado, através das experiências das palestrantes em conjunto com as vivências com o público no Laboratório Metodológico, na busca de uma visualização sobre quais os diálogos que são possíveis de serem executados entre as partes envolvidas. Tentando assim compreender quais os melhores meios de encontrar conexões de atividades/ações desses educadores e suas formações recebidas durante os encontros pedagógicos nos museus.

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Mediação: Joana D’arc de Souza Lima (PE)

06 de outubro de 2009

| Oficina: Mediações intermidiáticas em vivências estético-digitais.

Convidada: Fernanda Cunha (GO)

Sinopse: O objetivo da oficina é proporcionar experiências intermidiáticas através da inter-relação dos meios digitais e não-digitais como mediadores nas vivências estético-digitais.

| Laboratório Metodológico

Convidada: Renata Bittencourt (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação problematizando a inserção de recursos tecnológicos como campo de possibilidades de mediação em espaços expositivos a partir da nova exposição do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.




| Segundo Diálogo

Debate: Interseções entre mediação cultural e linguagens midiáticas

O uso recorrente das novas tecnologias no cotidiano tem nos levado a deparar com as possibilidades pedagógicas presente em seus processos dialogais. Por outro lado, percebemos como a inserção do uso dessas tecnologias como registro de visita a espaços museais e culturais tem transtornado as ações de mediação desses setores educativos. Às vezes, esses recursos tecnológicos fazem parte da própria expografia museográfica servindo como recurso propositivo de mediação. Partindo dessas situações o Segundo Diálogo pretende dialogar com as ações efetuadas tanto na Oficina como no Laboratório Metodológico sobre das novas tecnologias como recursos educacionais, seja no espaço escolar como no museal, refletindo sobre a possibilidade de utilizá-los como recursos propositivos complementar para a mediação/educação.

Convidadas: Fernanda Cunha (GO) | Renata Bittencourt (SP)

Mediação: Sandra Helena Rodrigues (PE)

| Lançamento da Publicação

Diálogos entre Arte e Público - Anderson Pinheiro (PE)

As idéias presentes nos diálogos de cada autor e autora demonstram, através de artigos, ensaios e relatos de experiências, ações que são possíveis de serem executadas pelos Educadores entre museus e sala de aula. Essa segunda edição da publicação foi organizada também com muito diálogo de modo que fosse possível invadir o lugar de cada um e construir um espaço coletivo que são aqui apresentados em quatro eixos, “Imagem e Tecnologia”, “Mediação e Arte Contemporânea”, “Educadores entre museus e sala de aula” e “A Criança e o Museu”.