Dialogue + Dialoog + 對話 + Dialog + Диалог + Διάλογος + 대화

[do grego diálogos, pelo latim dialogus] – 1. Entendimento através da palavra, conversação, colóquio, comunicação. 2. Discussão ou troca de idéias, conceitos, opiniões, objetivando a solução de problemas e a harmonia. [dialogosentrearteepublico@gmail.com]

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Desenhar materiais para educadores:

uma experiência e desafio

Rejane Galvão Coutinho



Antes de considerar a experiência de conceber materiais de apoio para educadores sobre exposições de artes visuais, no caso específico, as exposições do Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, apresento como preâmbulo alguns pressupostos.

Uso o verbo desenhar no sentido figurado de elaborar projetos, conceber, desenvolver e configurar; da seleção e delimitação dos conteúdos e articulações internas às configurações formais e visuais. É um desafio, porque somos educadores propondo materiais para educadores, ou seja, não somos especialistas em concepção e produção de materiais didáticos. Mas, antes, somos usuários em potencial dos materiais que concebemos, pois estamos inseridos no contexto das demandas e necessidades. O contexto dos desafios contemporâneos dos educadores brasileiros, que nas duas últimas décadas vêm buscando aproximar a arte da educação, inserindo a arte na escola, inserindo a arte nos currículos, aproximando os estudantes da arte.

E quem somos nós? O Arteducação Produções é uma equipe de arte-educadores e produtores culturais que presta consultoria e desenvolve projetos de ação educativa para instituições culturais em São Paulo. São projetos que se inserem no que hoje se designa nomear de campo da mediação cultural.

O desafio de conceber materiais para educadores acompanha os projetos desenvolvidos pela equipe desde suas primeiras atuações em 2001, pois sempre buscamos a parceria da escola. Entendemos que as ações educativas propiciadas pelas instituições culturais não devem se limitar a ações internas, mas têm potencial de reverberação para além dos espaços instituídos, fazendo com que os visitantes das exposições levem consigo questões para refletir sobre as experiências vividas, questões que teçam relações com a vida, que busquem estreitar as relações com a arte, que possam se transformar em conhecimentos significativos. E, nessa perspectiva, contar com a parceria dos educadores é fundamental. Educadores no sentido genérico, pois temos como princípio e, talvez, ambição abranger educadores de vários segmentos e áreas de conhecimento.

Nosso trabalho tem como fundamento a abordagem triangular e esse é outro grande desafio: exercer as dimensões da leitura, produção e contextualização de forma articulada no espaço transitório da mediação. Temos a nosso favor a situação de confronto presencial entre a arte e as pessoas que a procuram voluntariamente. Entendemos que a função do mediador é potencializar esse encontro, estimulando diálogos pertinentes, propondo questões instigantes em direção a uma crítica artística.

A toda ação educativa se antecede um trabalho de preparação nem sempre evidente e devidamente valorizado. Nesse caso específico, para conceber e desenvolver uma estratégia de mediação para uma exposição é necessário, inicialmente, um denso e amplo mergulho no universo a ser mediado. Um movimento sincrônico que busca situar e revelar questões pertinentes às obras e ao contexto, através de uma pesquisa de teor interdisciplinar. Com as possíveis questões delimitadas, seguese a elaboração de estratégias e percursos de visita que servem como diretrizes para a concepção e desenvolvimento de outros materiais, tais como: material de apoio ao mediador, material para público escolar, material para educadores etc.

Neste texto, analiso dois diferentes materiais para educadores, concebidos e desenvolvidos nesse contexto específico. A escolha dos exemplos teve como critério poder mostrar uma diversidade de possibilidades, de propostas e de recursos materiais para efetivá-las.

Exposição Alex Flemming – Corpo Coletivo
Realizada no Centro Cultural Banco do Brasil em 2001, com curadoria de Ana Mae Barbosa, a exposição pretendia revelar como o artista Alex Flemming vem trabalhando com a temática do corpo. Não era, portanto, uma exposição cronológica, mas um recorte antológico no conjunto da produção do artista, com foco maior em suas produções recentes, que desafiam os limites de um corpo culturalmente inscrito.

As condições iniciais para desenvolvimento do projeto educativo foram bastante favoráveis: uma parceria estimulante entre os arte/educadores e a curadora (também arte/educadora) permitiu o acompanhamento do processo curatorial. Inclusive, um membro da equipe do Arteducação Produções, a produtora Sofia Fan, atuou nas duas frentes, como produtora da ação educativa e também da exposição, estreitando as trocas e comunicação no processo. Um fruto concreto dessa parceria foi a inclusão de um texto do educativo no catálogo da exposição(i).

Nesse contexto, vale também salientar o estreito diálogo estabelecido entre o artista e o educativo, fato relevante e bastante desejável numa exposição de arte contemporânea, pois, infelizmente, sabemos que muitos artistas alimentam preconceitos em relação à educação, especialmente a arte/educação.

Outra condição primordial foi o significativo investimento do projeto como um todo na edição de material para professor com a mesma qualidade gráfica do catálogo e folder da exposição.

O material para educadores
Estrutura do material: conjunto de sete cartões em formato big postais 16 x 22 cm; frente - imagem de uma obra selecionada; verso - textos, questões e outras imagens. Policromia. O conjunto se acomoda em uma caixa que contém um bloco de anotações. Uma característica marcante deste material é o diálogo entre forma e conteúdo resultante da parceria com o designer do projeto, Vicente e Nasha Gil.


Os versos dos postais têm um formato semelhante: um conjunto de questões e outras imagens que fazem referência ou criam relações com a imagem da frente. As questões com seus comentários seguem certo padrão com algumas variações.


Num dos cartões abaixo, por exemplo, temos os seguintes textos ou provocações:















Você sabia?
Que esta série se encontra na estação Sumaré de metrô? Vale a pena fazer uma visita.

Observe.

Que tipo de foto é esta? Você já fez alguma foto parecida? Onde ela é usada? Quem são estas pessoas retratadas? Você consegue decifrar os textos sobre as fotos? O que eles dizem?

Que tal?

Brincar com fotos 3x4, suas e de seus alunos, ampliando, recortando, multiplicando e por fim construindo um painel.

Pesquise / pense / imagine.
Quando surgem as primeiras fotos 3x4? Será que têm relação com os retratos na história da arte?
Conte uma história.
Escolha uma destas fotos e imagine como é a vida desta pessoa. O que será que ela achou de ser retratada assim?

O conjunto compreende ainda um postal de contexto do artista, que apresenta o recorte da exposição e um postal de relações com obras de outros artistas que dialogam com o recorte e/ou questões tratadas.

Numa rápida análise podemos dizer que o material é estimulante para o professor pela estrutura de questões propostas, principalmente, se temos claro que a sua distribuição estava atrelada aos encontros presenciais em que se discutiam o contexto da exposição (artista e obras), o recorte e possíveis relações e ampliações, refletindo sobre esses aspectos. Por exemplo, as obras e o artista apresentados no cartão de referências eram discutidos como possibilidades nos encontros presenciais de professores.

Porém, podemos avaliar também que o material tem um potencial independente da presença do educador nos encontros, pelo seu caráter estimulador de reflexões.

Rembrandt e a arte da gravura
Exposição realizada no CCBB-SP, em 2002, com curadoria de Pieter Tjabbes, apresentando a excelente produção do artista nessa técnica, com obras pertencentes ao acervo do Museu Casa Rembrandt de Amsterdã.

Nessa exposição, vivenciamos um processo de diálogo formal com a curadoria e produção da exposição, como é de praxe na grande maioria dos casos, quando recebemos o roteiro ou projeto com as questões curatoriais e a lista de obras.

Como se tratava de uma exposição histórica, houve necessidade de ampla pesquisa sobre o artista, o contexto e as técnicas empregadas.

Não houve investimento por parte da instituição em produção de material para educadores. Mesmo diante desse contexto, o programa educativo resolveu investir nessa direção, produzindo um material em impressão caseira, com uma impressora jato de tinta.

O material consiste em nove folhas tamanho carta grampeadas em uma das pontas com o seguinte conteúdo:

1. Capa

2. Apresentação da ação educativa.

3. Sobre o artista (com foco na sua produção como gravador);

4. Sobre a técnica de água-forte;

5. Relações – Reflexões – Revelações: comparação de duas obras do artista: uma pintura e um desenho em aguada;

6. Relações – Reflexões – Revelações: comparação de duas obras do artista sobre temas semelhantes: uma pintura do sacrifício de Abrão e uma gravura do sacrifício de Isaac (comparação de diferentes tratamentos dados pelo artista);

7. Relações – Reflexões – Revelações: comparação entre uma gravura de paisagem de Rembrandt e uma gravura da companhia holandesa das Índias Ocidentais de Maurício de Nassau em Pernambuco 1644, mesma época da produção de Rembrandt na Holanda. Junto às imagens, há dados sobre as invasões holandesas no Brasil.

8. Relações – Reflexões – Revelações: comparação de auto-retratos em diferentes técnicas: Rembrandt, Flemming, Anita Malfatti;

9. Referências bibliográficas sobre arte/educação e sobre o artista; ficha técnica.

O material segue claramente a abordagem triangular e configura-se como um resumo das pesquisas feitas pelos educadores para a ação educativa. Tem uma tônica nas relações: leitura X contexto, e atrela-se aos encontros em que se exercia a leitura e interpretação das obras, discutia-se o contexto da exposição com ênfase na técnica e refletia-se sobre ele.

É um material de baixo custo e de baixa qualidade de impressão, configurando-se apenas como referência para pesquisa dos educadores que devem produzir seus próprios materiais de aula.

Considerações finais
Não temos receita de como produzir material para educadores, mas temos princípios e fundamentos e sabemos que isso é essencial para a concepção de qualquer tipo de ação educativa, pois eles orientam os processos e nos ajudam a vislumbrar pontos de chegada.

O ponto de partida de qualquer ação educativa é sempre a pesquisa. O exercício da pesquisa deve ser a base de toda a prática e a idéia é partilhar essa pesquisa com os educadores, nossos parceiros.

Pensamos o material como incentivo à pesquisa e apoio à prática do educador, não como material prescritivo ou como guia de aulas, pois acreditamos que método e metodologia são desenvolvidos pelos educadores diante da realidade e do contexto em que atuam e, sobretudo, a partir das crenças que orientam suas práticas.

Reforçamos a premissa de que elegemos possíveis recortes para adentrar a exposição, não somos donos da verdade, mas de pontos de vista.
__________
i Alex Flemming: corpo coletivo, catálogo, centro Cultural Banco do Brasil, 2001.

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ISSN da publicação Dialogos entre Arte e Público

1983-9960

Relembrando o 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2008 - IRB

O 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público, organizado por André Aquino (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e tendo como equipe Gabriela da Paz, Mércia Siqueira, Cristiane Mabel Medeiros e eu, aconteceu de modo muito gratificante.

Houveram mesas redondas, laboratórios metodológicos, videocasos e uma publicação.

Os palestrantes (Alemberg Quidins/CE, Stela Barbieri/SP, Juliana Prado /RJ, Cayo Honorato/SP, Zozilena Froz/PI, Narciso Telles/MG e Fernado Azevedo/PE) expuseram seus pontos de vistas (no auditório da Universidade Católica de Pernambuco, um de nossos apoiadores) trazendo-nos questionamentos válidos para repensarmos sobre nossas práticas tornando assim a possibilidade de diálogos com o público presente.

Os laboratórios metodológicos foi uma ação pensada por Nara Galvão, Joana D'Arc (Administradora e Coordenadora geral do educativo, consecutivamente, de um de nossos apoiadores, o Instituto Ricardo Brennand) e André Aquino como modo de experimentarmos na prática os discursos de nossos palestrantes Narciso Telles, Juliana Prado, Cayo Honorato e Zozilena Froz que se dividiram com grupos de participantes pelos espaços expositivos do museu citado e dialogou a prática com o público a partir das experiências das pesquisas/ações de cada um.

Os videocasos foram mostrados no último dia e se trataram de vídeos feitos pela Gabriela da Paz, de curta duração (de 4 a 7 minutos cada), que mostram ações que acontecem aqui na cidade do Recife e que lidam com as diversas linguagens artísticas travando o diálogo entre a Arte e a cidadania com as crianças e adolescentes.

Como tem sido desde o primeiro encontro, trabalhamos sempre em cima da frase "(...) dos diálogos que temos, aos diálogos que queremos (...)", e a publicação Caderno de Textos Diálogos entre Arte e Público não podia de estar de fora desse discurso. Como editor acidental, posso assim dizer convidamos profissionais de áreas diversas como História, Comunicações, Antropologia, Música, Circo, Pedagogia, Teatro, Sociologia, Museologia e Arte/Educação para dialogar suas experiências. Afinal, encontramos conexões e até possíveis soluções, para as nossas articulações dialogais entre a arte e o público em cada elemento que nos cerca presentes nas diversas áreas.

Para conhecer os videocasos, ler os artigos, os ver algumas imagens do evento, vocês podem acessar esse blog que criamos divulgando notícias e tendo o material sempre on-line.

Abraços,
Anderson Pinheiro
Arte-educador

Relembrando o 4o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2009 - MUHNE

O 4º Encontro Diálogos entre Arte e Público, aconteceu nos dias 05 e 06 de outubro de 2009 no Museu do Homem do Nordeste sob organização e coordenação de Regina Buccini (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e Anderson Pinheiro (Articulador da Rede de Educadores em Museus de Pernambuco), a partir de projeto idealizado e organizado por André Aquino.

O encontro promoveu a discussão e a divulgação de pesquisas e experiências que vão ao encontro da potencialização do inter-relacionamento entre arte e público, reunindo profissionais que, atuando em diferentes contextos de mediação cultural, possuam trabalhos de referência na área.

Nesta edição, o encontro propõe o seguinte questionamento “Educadores entre museus e salas de aula: que diálogos são esses?”, a partir do qual busca refletir acerca das estratégias colaborativas que agregam tanto os educadores que atuam em instituições culturais, como os educadores cuja atuação se dá no campo da educação formal.

Com essa discussão pretende-se colaborar para a construção de novas e mais consolidadas parcerias entre esses atores, responsáveis pela dinamização da democratização cultural.

05 de outubro de 2009

| Laboratório Metodológico

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação a partir do espaço expositivo do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.

| Primeiro Diálogo

Debate: Formação de educadores entre museus e sala de aula.

Partindo de algumas questões pertinentes quanto à formação do educador de museu/mediador cultural e do educador de sala de aula/professor, as suas principais queixas e as possibilidades de efetuar parcerias entre ambos, o Primeiro Diálogo será direcionado, através das experiências das palestrantes em conjunto com as vivências com o público no Laboratório Metodológico, na busca de uma visualização sobre quais os diálogos que são possíveis de serem executados entre as partes envolvidas. Tentando assim compreender quais os melhores meios de encontrar conexões de atividades/ações desses educadores e suas formações recebidas durante os encontros pedagógicos nos museus.

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Mediação: Joana D’arc de Souza Lima (PE)

06 de outubro de 2009

| Oficina: Mediações intermidiáticas em vivências estético-digitais.

Convidada: Fernanda Cunha (GO)

Sinopse: O objetivo da oficina é proporcionar experiências intermidiáticas através da inter-relação dos meios digitais e não-digitais como mediadores nas vivências estético-digitais.

| Laboratório Metodológico

Convidada: Renata Bittencourt (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação problematizando a inserção de recursos tecnológicos como campo de possibilidades de mediação em espaços expositivos a partir da nova exposição do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.




| Segundo Diálogo

Debate: Interseções entre mediação cultural e linguagens midiáticas

O uso recorrente das novas tecnologias no cotidiano tem nos levado a deparar com as possibilidades pedagógicas presente em seus processos dialogais. Por outro lado, percebemos como a inserção do uso dessas tecnologias como registro de visita a espaços museais e culturais tem transtornado as ações de mediação desses setores educativos. Às vezes, esses recursos tecnológicos fazem parte da própria expografia museográfica servindo como recurso propositivo de mediação. Partindo dessas situações o Segundo Diálogo pretende dialogar com as ações efetuadas tanto na Oficina como no Laboratório Metodológico sobre das novas tecnologias como recursos educacionais, seja no espaço escolar como no museal, refletindo sobre a possibilidade de utilizá-los como recursos propositivos complementar para a mediação/educação.

Convidadas: Fernanda Cunha (GO) | Renata Bittencourt (SP)

Mediação: Sandra Helena Rodrigues (PE)

| Lançamento da Publicação

Diálogos entre Arte e Público - Anderson Pinheiro (PE)

As idéias presentes nos diálogos de cada autor e autora demonstram, através de artigos, ensaios e relatos de experiências, ações que são possíveis de serem executadas pelos Educadores entre museus e sala de aula. Essa segunda edição da publicação foi organizada também com muito diálogo de modo que fosse possível invadir o lugar de cada um e construir um espaço coletivo que são aqui apresentados em quatro eixos, “Imagem e Tecnologia”, “Mediação e Arte Contemporânea”, “Educadores entre museus e sala de aula” e “A Criança e o Museu”.