Dialogue + Dialoog + 對話 + Dialog + Диалог + Διάλογος + 대화

[do grego diálogos, pelo latim dialogus] – 1. Entendimento através da palavra, conversação, colóquio, comunicação. 2. Discussão ou troca de idéias, conceitos, opiniões, objetivando a solução de problemas e a harmonia. [dialogosentrearteepublico@gmail.com]

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A leitura que forma o mediador,
forma o olhar e ajuda a ler o mundo?
Simone Ferreira Luizines


Na contemporaneidade, quase tudo do que nos é apresentado é feito visualmente. Também é consenso que a capacidade de assimilação é muito mais ampla na visualidade do que em outros sentidos. O que não significa que conhecemos tudo o que vemos. A comunicação hoje, feita através dos mais avançados meios tecnológicos, expõe-nos a múltiplos elementos visuais.

Diante dessa realidade, o aprendizado e a reflexão sobre esse mundo das imagens são imprescindíveis à compreensão de nossa atual cultura. A distância entre a riqueza da visualidade contemporânea e a habilidade para analisar essas imagens criou um campo de estudo que se dedica a perceber as diferentes formas com que as pessoas observam, analisam, decodificam aquilo que lhes é visualmente apresentado e a formar pessoas capazes de auxiliar terceiros durante o processo de leitura dessas imagens.

Na Arte-educação contemporânea, um dos grandes enfoques de discussão é a leitura da imagem e, apesar de quando falarmos em leitura a primeira idéia a vir a mente ser a de compreensão das palavras, em sentido freiriano (2003), leitura é bem mais que decodificar palavras: é ler o mundo. E como na atualidade o mundo está repleto de mensagens, a leitura também envolve ler imagens e dentro da imagem, a obra de arte. (AZEVEDO, s.d.)

A expressão Ler Imagens, já circula nas áreas de comunicação, sob influência do formalismo da Gestalt e da semiótica desde o final da década de 70, e muitas teorias e metodologias de leitura conseguem auxiliar a ler arte.

Uma linha de leitura que, no caso de alguns museus, ainda se vê é a submissão do educador aos desígnios do curador, funcionando o mediador como mero reprodutor das idéias curatoriais. Ainda se observa também uma forte tendência ao formalismo, análises das obras apenas em função da identificação de linha, forma e cor sem preocupação com a construção de significados (BARBOSA, 2004).

Porém, não interessa aqui discutir se é sob a ótica formalista, estética, de faceta semiótica (denotativa ou conotativa) ou sob a proposta de ver a imagem como fonte documental, como têm feito alguns historiadores, antropólogos e sociólogos, que a leitura tem sido aplicada pelo mediador. O que se pretende é questionar a compreensão de mediador da leitura de imagem como aquele que “ensina a ver e ler”. Ensina a ver o quê? Quem é esse personagem que, mesmo diante da complexidade visual da contemporaneidade, seria capaz de ver e ler qualquer imagem?

A necessidade ou não da utilização do mediador é uma discussão antiga. Já na reforma protestante, com a tradução da Bíblia, fez-se desnecessária a presença do Padre, mediador das palavras bíblicas, o que ocasionou uma diversidade de interpretações e obrigou a Igreja, preocupada em retomar sua hegemonia e controle, a reconsiderar a presença do mediador - personagem com o papel fundamental de mediar e de conciliar tensões intelectuais, resolvendo discrepâncias aparentes, harmonizando assim todos os elementos da vida mental.

No campo das artes plásticas, a cada dia, a produção aproxima-se mais da vida. E é esse um dos grandes obstáculos para a compreensão da arte contemporânea e conseqüente valorização da figura do mediador - personagem que media o contato e a fruição entre expectador e obra. E será que o mediador da leitura de imagem, e agora me detenho apenas à leitura da imagem de obra de arte, não tem atuado apenas como esse conciliador de tensões, ou até controlador de interpretações? Será que o que se tem feito, tanto no museu quanto na sala de aula, é realmente uma formação do olhar como costumamos pregar, ou será que, de fato, temos tentado ensinar nossos alunos a ver e ler sob a nossa ótica?

Os estudos sobre leitura da obra de arte situam-se num marco teórico que vê a educação não apenas restrita à formalidade da instituição escolar, mas estendida a inúmeros mecanismos educativos presentes em diferentes instâncias socioculturais, como por exemplo, os museus. Grande parte destes tem como função primordial educar os sujeitos e, por estarem inseridos na área cultural, são revestidos de características como prazer e diversão, mas esses espaços também educam e produzem conhecimento. O que precisa ser revisto é que tipo de conhecimento tem sido produzido.

Algumas pessoas costumam defender a idéia do mediador como aquele capaz de facilitar a fruição da leitura sem interferir ou influenciar a construção do educando com seus conhecimentos e reflexões. Nem oito, nem oitenta. Não se pode pensar a figura de um mediador como aquele que ensina a ver, nem muito menos aquele capaz de formar o olhar abstendo-se de qualquer construção do grupo, até porque isso seria impossível. O mediador, como ser em processo, deve perceber-se e portar-se não como imparcial ao grupo, mas como parte integrante e de extrema importância dentro dele, ou, como defendia Vygotsky (MELLO, 2004), o indivíduo mais experiente que, através da mediação, estimulará o processo de aprendizagem do menos experiente. O mediador - refirome à semântica da palavra dentro da educação e não a seu conceito abrangente - tanto do Museu quanto da sala de aula, deve dialogar com os interesses do grupo e, a partir disso, propor questionamentos que despertem reflexões.

Pensando a leitura sob uma abordagem crítica, e entendendo-a como um campo de estudo transdisciplinar e multirreferencial, que pode tomar seus referentes tanto da arte quanto da história, psicologia cultural, psicanálise, antropologia, sociologia e filosofia, sem fechar-se nestas ou somente sobre essas referências, é que alguns autores enfatizam que esse campo de estudos se organiza a partir de relação dos significados culturais, valores, identidade e noção de representação. Sendo assim, uma leitura torna-se significativa quando se estabelecem relações entre o objeto de leitura e a experiência cultural do leitor.

E nesse caso,

a pedagogia questionadora – aquela que propõe questões que exigem reflexão, análise e interpretação, sem que sejam evitadas as informações que esclarecem e/ou apóiam interpretações - é muito mais apropriada, já que a função da pergunta é levar a pensar, estimular associações e interpretações. (BARBOSA, 2004)

Nesse sentido, já não cabe mais perguntar o que os educandos não sabem e posicionar-se como o meio termo entre aqueles que querem ver e aquilo que se quer ver, mas sim propor conexões, a partir do que já se sabe, para que, juntos, possam ampliar e organizar discursos com os saberes que todos possuem. A proposta é construir relatos visuais, utilizando diferentes suportes relacionados com a própria identidade e contexto sociocultural, os quais ajudem os educandos a construir um posicionamento diante do mundo sem que o mediador/educador dite um direcionamento.

É importante entender que o processo de aprendizagem é móvel, pois a cada dia se incorporam novos aspectos. Nesse sentido, os mediadores/educadores têm de estar atentos ao que está se passando no mundo e responder com propostas que possibilitem aos educandos elaborar formas de compreender e atuar no mundo. É essa postura que definirá se o mediador em questão é um educador, que media as experiências culturais e estimula a construção coletiva do conhecimento, ou se é apenas aquele que media as discrepâncias e que controla as tensões. A situação criada pelo mediador/educador para iniciar o processo de aprendizagem é o que sinaliza sua orientação educativa e define seu papel diante do grupo.
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Referencias Bibliográficas
PILLAR, Analice Dultra. Leitura e releitura. In: Pillar, Analice D.(org.). A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Ed. Mediação, 1999.Série Cadernos de Autoria.
SANTOS, Anderson Pinheiro e LUIZINES, Simone Ferreira. Justifique sua resposta. In: Revista 2 Pontos para Documenta de Kassel. Recife, 2007.
SARDELICH, Maria Emilia. Leitura de imagens e cultura visual: desenredando conceitos para a prática educativa. No curso “Educación Artística: enseñanza y aprendizaje de las artes visuales”, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Barcelona, 2005.

Citações Indiretas
AZEVEDO, Fernando Antônio Gonçalves. A arte possibilita ao ser humano re-pensar suas certezas. s.d.
BARBOSA, Ana Mae. Arte/educação em Museus: Herança intangível. 2004.
MELLO, Suely Amaral. A escola de Vygotsky. 2004.

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ISSN da publicação Dialogos entre Arte e Público

1983-9960

Relembrando o 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2008 - IRB

O 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público, organizado por André Aquino (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e tendo como equipe Gabriela da Paz, Mércia Siqueira, Cristiane Mabel Medeiros e eu, aconteceu de modo muito gratificante.

Houveram mesas redondas, laboratórios metodológicos, videocasos e uma publicação.

Os palestrantes (Alemberg Quidins/CE, Stela Barbieri/SP, Juliana Prado /RJ, Cayo Honorato/SP, Zozilena Froz/PI, Narciso Telles/MG e Fernado Azevedo/PE) expuseram seus pontos de vistas (no auditório da Universidade Católica de Pernambuco, um de nossos apoiadores) trazendo-nos questionamentos válidos para repensarmos sobre nossas práticas tornando assim a possibilidade de diálogos com o público presente.

Os laboratórios metodológicos foi uma ação pensada por Nara Galvão, Joana D'Arc (Administradora e Coordenadora geral do educativo, consecutivamente, de um de nossos apoiadores, o Instituto Ricardo Brennand) e André Aquino como modo de experimentarmos na prática os discursos de nossos palestrantes Narciso Telles, Juliana Prado, Cayo Honorato e Zozilena Froz que se dividiram com grupos de participantes pelos espaços expositivos do museu citado e dialogou a prática com o público a partir das experiências das pesquisas/ações de cada um.

Os videocasos foram mostrados no último dia e se trataram de vídeos feitos pela Gabriela da Paz, de curta duração (de 4 a 7 minutos cada), que mostram ações que acontecem aqui na cidade do Recife e que lidam com as diversas linguagens artísticas travando o diálogo entre a Arte e a cidadania com as crianças e adolescentes.

Como tem sido desde o primeiro encontro, trabalhamos sempre em cima da frase "(...) dos diálogos que temos, aos diálogos que queremos (...)", e a publicação Caderno de Textos Diálogos entre Arte e Público não podia de estar de fora desse discurso. Como editor acidental, posso assim dizer convidamos profissionais de áreas diversas como História, Comunicações, Antropologia, Música, Circo, Pedagogia, Teatro, Sociologia, Museologia e Arte/Educação para dialogar suas experiências. Afinal, encontramos conexões e até possíveis soluções, para as nossas articulações dialogais entre a arte e o público em cada elemento que nos cerca presentes nas diversas áreas.

Para conhecer os videocasos, ler os artigos, os ver algumas imagens do evento, vocês podem acessar esse blog que criamos divulgando notícias e tendo o material sempre on-line.

Abraços,
Anderson Pinheiro
Arte-educador

Relembrando o 4o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2009 - MUHNE

O 4º Encontro Diálogos entre Arte e Público, aconteceu nos dias 05 e 06 de outubro de 2009 no Museu do Homem do Nordeste sob organização e coordenação de Regina Buccini (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e Anderson Pinheiro (Articulador da Rede de Educadores em Museus de Pernambuco), a partir de projeto idealizado e organizado por André Aquino.

O encontro promoveu a discussão e a divulgação de pesquisas e experiências que vão ao encontro da potencialização do inter-relacionamento entre arte e público, reunindo profissionais que, atuando em diferentes contextos de mediação cultural, possuam trabalhos de referência na área.

Nesta edição, o encontro propõe o seguinte questionamento “Educadores entre museus e salas de aula: que diálogos são esses?”, a partir do qual busca refletir acerca das estratégias colaborativas que agregam tanto os educadores que atuam em instituições culturais, como os educadores cuja atuação se dá no campo da educação formal.

Com essa discussão pretende-se colaborar para a construção de novas e mais consolidadas parcerias entre esses atores, responsáveis pela dinamização da democratização cultural.

05 de outubro de 2009

| Laboratório Metodológico

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação a partir do espaço expositivo do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.

| Primeiro Diálogo

Debate: Formação de educadores entre museus e sala de aula.

Partindo de algumas questões pertinentes quanto à formação do educador de museu/mediador cultural e do educador de sala de aula/professor, as suas principais queixas e as possibilidades de efetuar parcerias entre ambos, o Primeiro Diálogo será direcionado, através das experiências das palestrantes em conjunto com as vivências com o público no Laboratório Metodológico, na busca de uma visualização sobre quais os diálogos que são possíveis de serem executados entre as partes envolvidas. Tentando assim compreender quais os melhores meios de encontrar conexões de atividades/ações desses educadores e suas formações recebidas durante os encontros pedagógicos nos museus.

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Mediação: Joana D’arc de Souza Lima (PE)

06 de outubro de 2009

| Oficina: Mediações intermidiáticas em vivências estético-digitais.

Convidada: Fernanda Cunha (GO)

Sinopse: O objetivo da oficina é proporcionar experiências intermidiáticas através da inter-relação dos meios digitais e não-digitais como mediadores nas vivências estético-digitais.

| Laboratório Metodológico

Convidada: Renata Bittencourt (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação problematizando a inserção de recursos tecnológicos como campo de possibilidades de mediação em espaços expositivos a partir da nova exposição do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.




| Segundo Diálogo

Debate: Interseções entre mediação cultural e linguagens midiáticas

O uso recorrente das novas tecnologias no cotidiano tem nos levado a deparar com as possibilidades pedagógicas presente em seus processos dialogais. Por outro lado, percebemos como a inserção do uso dessas tecnologias como registro de visita a espaços museais e culturais tem transtornado as ações de mediação desses setores educativos. Às vezes, esses recursos tecnológicos fazem parte da própria expografia museográfica servindo como recurso propositivo de mediação. Partindo dessas situações o Segundo Diálogo pretende dialogar com as ações efetuadas tanto na Oficina como no Laboratório Metodológico sobre das novas tecnologias como recursos educacionais, seja no espaço escolar como no museal, refletindo sobre a possibilidade de utilizá-los como recursos propositivos complementar para a mediação/educação.

Convidadas: Fernanda Cunha (GO) | Renata Bittencourt (SP)

Mediação: Sandra Helena Rodrigues (PE)

| Lançamento da Publicação

Diálogos entre Arte e Público - Anderson Pinheiro (PE)

As idéias presentes nos diálogos de cada autor e autora demonstram, através de artigos, ensaios e relatos de experiências, ações que são possíveis de serem executadas pelos Educadores entre museus e sala de aula. Essa segunda edição da publicação foi organizada também com muito diálogo de modo que fosse possível invadir o lugar de cada um e construir um espaço coletivo que são aqui apresentados em quatro eixos, “Imagem e Tecnologia”, “Mediação e Arte Contemporânea”, “Educadores entre museus e sala de aula” e “A Criança e o Museu”.