Dialogue + Dialoog + 對話 + Dialog + Диалог + Διάλογος + 대화

[do grego diálogos, pelo latim dialogus] – 1. Entendimento através da palavra, conversação, colóquio, comunicação. 2. Discussão ou troca de idéias, conceitos, opiniões, objetivando a solução de problemas e a harmonia. [dialogosentrearteepublico@gmail.com]

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Arqueologias do presente

Bruna Rafaella

Na esteira de um mundo ambientalmente correto e preocupado com sua herança, surgiu um campo de atuação novo para os arqueólogos: a avaliação e o salvamento do patrimônio arqueológico ameaçado por grandes empreendimentos. (Arqueologia de contrato*)


Arqueologia do presente é o termo dado a toda produção plástica que possui em seu cerne o ato de extrair dos vestígios do meio urbano, sejam eles materiais e/ou humanos, base simbólica e criativa na elaboração de um conceito estético. Para realizar seu trabalho, o arqueólogo do presente lança mão de diversos procedimentos. Em campo, procura identificar e registrar com câmera fotográfica, filmadora, desenho, gravura, entre outros, aspectos que lhes mostram peculiares na cidade. Nesses sítios o artista/arqueólogo documenta estruturas e coleta objetos que pertencem ao cotidiano da sociedade em que está inserido demonstrando, primeiramente, um repertório de escolhas formais. Em seguida, inicia a fase de estudos e trabalhos plásticos em atelier (laboratório), onde parte para segunda etapa do processo criativo na elaboração da obra plástica, editando todo material registrado.

O que deve se manter ou ser descartado nesse meio infinito de possibilidades? Que tipo de ação pode tornar um objeto isento de sua função original (lixo), em peça para contemplação, entretenimento e fruição? Para o arqueólogo do presente todo material humano merece ser preservado, e pode ser eternizado em forma artística. As discussões sobre preservação de memória crescem, à medida que cresce a consciência dos homens em relação ao tempo atual. A cidade tem passado por um processo de transformação tão rápido e rígido, regido pela ditadura da segurança e do progresso econômico, que ao nos darmos conta nos sentimos indefesos e ao mesmo tempo imbuídos de uma obrigação social de transformação desse contexto opressor. Por vezes, outra força que nos faz mover é o fetiche de possuir um objeto raro, a vontade de colecionar, de manter uma parte desse contexto prestes a sucumbir.

Indo do gosto comum ao modismo, passando pela produção plástica de diversos artistas que trabalham com extrativismo urbano, percebemos ainda muito forte a herança do processo criativo gerados pelos experimentos dos surrealistas, dadaístas, com seu maior expoente no artista Marcel Duchamp. A diferença e contribuição que a nova geração vem a acrescentar na história da arte estão justamente na motivação dessas ações. Enquanto esses movimentos denunciavam e protestavam contra uma civilização que não conseguia evitar a guerra, a produção visual atual a que detenho minha reflexão busca o belo no meio de um turbilhão de elementos produzidos de forma desenfreada por uma sociedade de consumo que não pára de acumular informações. E dessa infinidade de objetos e informações sempre tenho a desconfortável sensação de obter o mínimo.

Sob essas reflexões elaborei o trabalho "Gravação". Trata-se de uma ação performática que gera uma série de gravuras, monotipias, que possuem como matriz, grades de ferro ornamentais de edificações nas cidades em desuso, encontradas, geralmente, em depósitos de ferro velho. Nessa performance, foi usada tinta na cor branca sobre os portões e impressas as grades sobre as roupas que uso durante a ação. O resultado plástico são os registros da performance em fotografias e vídeos, e monotipia com imagens das grades espalhadas sobre vestidos de forma aleatória.

Essa pesquisa plástica começou em 2005, de forma bastante experimental, onde por meio de um processo químico muito simples a ferrugem da matriz era passada para tecido. Outro desdobramento dessa pesquisa se dá na impressão de grades realizada em prédios da cidade. Nessa situação os trabalhos recebem título de acordo com o local onde foram feitos. Por exemplo, "Antiga Escola de Belas Artes, 2006" (atual edifício do Liceu de Artes e Ofício). Dessa forma, tomo o trabalho como uma espécie de catalogação, processo corriqueiro da arqueologia científica, gravando não apenas imagens ornamentais, mas também um dado local, contextualizado numa época específica.

Como muitas dessas configurações de grades de ferro não são mais industrializadas, venho através dessa pesquisa reivindicar a existência desse material, mesmo que de forma efêmera tal qual no caso das gravuras realizadas com ferrugem. Em outro plano de leitura, o trabalho pode nos parecer um documento dos costumes e da memória recifense, onde o ferro na construção de portões, janelas, óculos, pontes, sacadas, etc., sempre esteve lado a lado do processo de urbanização como elemento que presta igual valor a idéia de segurança e ornamentação. Em todos os níveis sociais, em diversas gerações, vemos portões de ferro pela cidade, somando beleza e cor, dos remendos de casas populares da periferia às edificações pomposas do governo.

Nesse processo, me mantenho no limiar que retira das memórias (pessoais e coletivas) as itinerâncias que compõe o diálogo entre a obra, o tempo, a ação, o sujeito e que nesse desenrolar de sentidos uma especulação acerca de uma arte pública abre mão para noções que norteiam muito mais um processo de busca pessoal. O arqueólogo do presente que, como tantas outras pessoas livres desse tipo de rotulação, passa por um processo de iniciação quando percebe uma ligação "mágica" entre a cidade (como organismo vivo), sua relação com esta e sua identidade. Nessa busca o sujeito percebe que vive dentro de si, sua fonte de inspiração e seu próprio inimigo, e fora dele o tempo.

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* Disponível em: ITAÚ CULTURAL. http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/pt/oq_arqueologia/contrato00.htm. Acessado em 05/04/2008.

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ISSN da publicação Dialogos entre Arte e Público

1983-9960

Relembrando o 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2008 - IRB

O 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público, organizado por André Aquino (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e tendo como equipe Gabriela da Paz, Mércia Siqueira, Cristiane Mabel Medeiros e eu, aconteceu de modo muito gratificante.

Houveram mesas redondas, laboratórios metodológicos, videocasos e uma publicação.

Os palestrantes (Alemberg Quidins/CE, Stela Barbieri/SP, Juliana Prado /RJ, Cayo Honorato/SP, Zozilena Froz/PI, Narciso Telles/MG e Fernado Azevedo/PE) expuseram seus pontos de vistas (no auditório da Universidade Católica de Pernambuco, um de nossos apoiadores) trazendo-nos questionamentos válidos para repensarmos sobre nossas práticas tornando assim a possibilidade de diálogos com o público presente.

Os laboratórios metodológicos foi uma ação pensada por Nara Galvão, Joana D'Arc (Administradora e Coordenadora geral do educativo, consecutivamente, de um de nossos apoiadores, o Instituto Ricardo Brennand) e André Aquino como modo de experimentarmos na prática os discursos de nossos palestrantes Narciso Telles, Juliana Prado, Cayo Honorato e Zozilena Froz que se dividiram com grupos de participantes pelos espaços expositivos do museu citado e dialogou a prática com o público a partir das experiências das pesquisas/ações de cada um.

Os videocasos foram mostrados no último dia e se trataram de vídeos feitos pela Gabriela da Paz, de curta duração (de 4 a 7 minutos cada), que mostram ações que acontecem aqui na cidade do Recife e que lidam com as diversas linguagens artísticas travando o diálogo entre a Arte e a cidadania com as crianças e adolescentes.

Como tem sido desde o primeiro encontro, trabalhamos sempre em cima da frase "(...) dos diálogos que temos, aos diálogos que queremos (...)", e a publicação Caderno de Textos Diálogos entre Arte e Público não podia de estar de fora desse discurso. Como editor acidental, posso assim dizer convidamos profissionais de áreas diversas como História, Comunicações, Antropologia, Música, Circo, Pedagogia, Teatro, Sociologia, Museologia e Arte/Educação para dialogar suas experiências. Afinal, encontramos conexões e até possíveis soluções, para as nossas articulações dialogais entre a arte e o público em cada elemento que nos cerca presentes nas diversas áreas.

Para conhecer os videocasos, ler os artigos, os ver algumas imagens do evento, vocês podem acessar esse blog que criamos divulgando notícias e tendo o material sempre on-line.

Abraços,
Anderson Pinheiro
Arte-educador

Relembrando o 4o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2009 - MUHNE

O 4º Encontro Diálogos entre Arte e Público, aconteceu nos dias 05 e 06 de outubro de 2009 no Museu do Homem do Nordeste sob organização e coordenação de Regina Buccini (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e Anderson Pinheiro (Articulador da Rede de Educadores em Museus de Pernambuco), a partir de projeto idealizado e organizado por André Aquino.

O encontro promoveu a discussão e a divulgação de pesquisas e experiências que vão ao encontro da potencialização do inter-relacionamento entre arte e público, reunindo profissionais que, atuando em diferentes contextos de mediação cultural, possuam trabalhos de referência na área.

Nesta edição, o encontro propõe o seguinte questionamento “Educadores entre museus e salas de aula: que diálogos são esses?”, a partir do qual busca refletir acerca das estratégias colaborativas que agregam tanto os educadores que atuam em instituições culturais, como os educadores cuja atuação se dá no campo da educação formal.

Com essa discussão pretende-se colaborar para a construção de novas e mais consolidadas parcerias entre esses atores, responsáveis pela dinamização da democratização cultural.

05 de outubro de 2009

| Laboratório Metodológico

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação a partir do espaço expositivo do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.

| Primeiro Diálogo

Debate: Formação de educadores entre museus e sala de aula.

Partindo de algumas questões pertinentes quanto à formação do educador de museu/mediador cultural e do educador de sala de aula/professor, as suas principais queixas e as possibilidades de efetuar parcerias entre ambos, o Primeiro Diálogo será direcionado, através das experiências das palestrantes em conjunto com as vivências com o público no Laboratório Metodológico, na busca de uma visualização sobre quais os diálogos que são possíveis de serem executados entre as partes envolvidas. Tentando assim compreender quais os melhores meios de encontrar conexões de atividades/ações desses educadores e suas formações recebidas durante os encontros pedagógicos nos museus.

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Mediação: Joana D’arc de Souza Lima (PE)

06 de outubro de 2009

| Oficina: Mediações intermidiáticas em vivências estético-digitais.

Convidada: Fernanda Cunha (GO)

Sinopse: O objetivo da oficina é proporcionar experiências intermidiáticas através da inter-relação dos meios digitais e não-digitais como mediadores nas vivências estético-digitais.

| Laboratório Metodológico

Convidada: Renata Bittencourt (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação problematizando a inserção de recursos tecnológicos como campo de possibilidades de mediação em espaços expositivos a partir da nova exposição do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.




| Segundo Diálogo

Debate: Interseções entre mediação cultural e linguagens midiáticas

O uso recorrente das novas tecnologias no cotidiano tem nos levado a deparar com as possibilidades pedagógicas presente em seus processos dialogais. Por outro lado, percebemos como a inserção do uso dessas tecnologias como registro de visita a espaços museais e culturais tem transtornado as ações de mediação desses setores educativos. Às vezes, esses recursos tecnológicos fazem parte da própria expografia museográfica servindo como recurso propositivo de mediação. Partindo dessas situações o Segundo Diálogo pretende dialogar com as ações efetuadas tanto na Oficina como no Laboratório Metodológico sobre das novas tecnologias como recursos educacionais, seja no espaço escolar como no museal, refletindo sobre a possibilidade de utilizá-los como recursos propositivos complementar para a mediação/educação.

Convidadas: Fernanda Cunha (GO) | Renata Bittencourt (SP)

Mediação: Sandra Helena Rodrigues (PE)

| Lançamento da Publicação

Diálogos entre Arte e Público - Anderson Pinheiro (PE)

As idéias presentes nos diálogos de cada autor e autora demonstram, através de artigos, ensaios e relatos de experiências, ações que são possíveis de serem executadas pelos Educadores entre museus e sala de aula. Essa segunda edição da publicação foi organizada também com muito diálogo de modo que fosse possível invadir o lugar de cada um e construir um espaço coletivo que são aqui apresentados em quatro eixos, “Imagem e Tecnologia”, “Mediação e Arte Contemporânea”, “Educadores entre museus e sala de aula” e “A Criança e o Museu”.