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CIRCO: Ainda é a maior diversão.
Gilberto Trindade
"Não tenho dúvida, a arte-educação é um dos caminhos, embora árduo, para a solidariedade. Essa expectativa tem uma dimensão maior quando tratamos do universo do Circo, pois esta arte tem proporções maiores a partir da sua lona, suas luzes, seus figurinos, seus adereços e suas técnicas". *
As escolas de Circo sociais têm uma rede de articulação coordenada e apoiada pela rede Circo do Mundo no qual faz parte o Cirque Du Solei, onde se trabalham vários pilares pedagógicos de trocas de experiências entre estas e somam-se uma média de 50 delas espalhadas pelo país. Uma das discussões mais ferrenhas nos encontros da rede é a tentativa de desmistificar a idéia da "salvação" por parte das escolas e ainda pelo senso comum que todas as crianças e jovens nestes projetos são de rua. O primeiro ponto é o papel da arte em diversas expressões, no caso o Circo não tem essa função social (salvacionista). Ela nasce da necessidade do homem comunicar-se e expressar-se como agente transformador do cotidiano, buscando elementos que o ajudem na sua performance como: objetos para jogar, equilibrar, fazer sumir, brincar com fogo, elemento que por muito tempo foi tão sagrado, domar animais, tirar proveito da sua comicidade ou de seu entorno, manipular o corpo de formas não pensadas, daí surge à arte circense como chamariz de uma conquista que integra respeito, confiança, troca de experiência, levando as crianças e os jovens que participam desses projetos a uma possibilidade de transformação nas suas vidas e das pessoas que estão ao seu redor e a comunidade familiar, pois na maioria dos casos esses educandos têm pai, mãe e irmãos, ou seja, um núcleo de família, mas preferem a rua pela vida difícil nos seus lares e esta apresenta desafios inusitados, por isso o fascínio do circo que envolve risco.
Existe toda uma metodologia para se aplicar os ensinamentos das técnicas circenses nos projetos sociais, com constantes encontros e capacitações, mas é sabido que não existem fórmulas; é a custo do dia-dia que se vai crescendo e contornando as dificuldades. De encontro a esse raciocínio, temos algumas ONG´S compostas de pessoas que sabem como proceder eticamente, mas usam a idéia "salvadora" para conquistar espaço em benefício próprio, principalmente, financeiro, existindo infelizmente muitos apoiadores para esse tipo de conduta.
Nas periferias, onde os Circos de bairros têm seu foco, a princípio desorganizados e sem pretensões de fazerem apresentações de alto nível, eles sabem exatamente (por uma rede de comunicação entre os afins) onde vão armar sua casa de espetáculos e que tipo de atrações irá interessar ao público, a sua sobrevivência, que os acompanha pela estrutura material e do espetáculo existindo uma forma de entretenimento particular que dialoga em perfeita sintonia com as comunidades das grandes cidades. A quantidade de público ao seu redor, a música a ser tocada, o figurino e os números que apresentarão, gerando uma renda razoável por três semanas (no mínimo), pois, muitas vezes, as mudanças requerem custo e há pouca disponibilidade de terrenos. Neste quadro o público comparece em massa por muitos motivos, desde esta identificação com o espetáculo até a proximidade da sua residência por economizar passagem, não precisando usar roupas que requeiram uma produção extra cotidiana, e pode levar toda a família, inclusive, o cachorro e os colegas do bairro, e por conta do baixo valor do ingresso, irá mais de uma vez àquele circo.
Na outra margem do show circense, temos as grandes companhias que exploram uma clientela específica, geralmente instalam seu espetáculo em grandes shoppings e teatros onde disponibilizam de uma infra-estrutura como: estacionamentos, segurança, conforto, aliado a um forte poder de marketing, liderado pela televisão; A principal característica destes espetáculos são as produções que aliam a tradição a uma forte inclusão de tecnologia para causar efeitos na apresentação, repercutindo diretamente no público, cativando-o, pois este tem uma enorme opção de lazer pelo seu alto poder aquisitivo.
A tradição circense familiar, onde gerações vão se perpetuando no fazer arte, está se perdendo principalmente neste começo de século, é inegável a contribuição das trupes contemporâneas vindas do teatro e dança, como também das escolas não importa que sejam elas de técnicas ou sociais, contribuem e contribuirão para uma quantidade e qualidade, à arte circense, e elas não negam a tradição, colocando-a numa perspectiva vanguardista não só como espetáculo como no sentido da platéia que dará este caráter, pois ela é mutante pela itinerância da vida circense e pelo sentido temporal das gerações que assistiram sentido temporal das gerações que a assistiram e irão desfrutar do "maior espetáculo da terra."
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* Trecho do artigo escrito pelo mesmo autor para Escola Pernambucana de Circo no encontro da rede Circo do Mundo no Recife, em 2007 "O futuro: Circo do Mundo para o Mundo".
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