Dialogue + Dialoog + 對話 + Dialog + Диалог + Διάλογος + 대화

[do grego diálogos, pelo latim dialogus] – 1. Entendimento através da palavra, conversação, colóquio, comunicação. 2. Discussão ou troca de idéias, conceitos, opiniões, objetivando a solução de problemas e a harmonia. [dialogosentrearteepublico@gmail.com]

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A experiência em ensino de arte da casa da criatividade

Emília Patrícia de Freitas

A idéia primeira da Casa da Criatividade, começou a tomar forma por volta de 1996, onde foi criado seu símbolo e seu slogan: "Vamos Construir ESTA* idéia". O projeto, também intitulado Projeto Sócio-Educativo de Ações Integradas, consistia no desenvolvimento de ações sócio-educacionais alternativas visando o atendimento e a promoção das necessidades básicas das crianças e adolescentes, marginalizadas e empobrecidas residentes na comunidade do Coque. Em linhas gerais, o PROJETO SÓCIO-EDUCATIVO DE AÇÕES INTEGRADAS – CASA DA CRIATIVIDADE, buscou efetivar seus projetos sociais e educacionais junto às crianças e adolescentes da comunidade do Coque, com ações que interferissem, positivamente e qualitativamente, na melhoria das condições de vida do público alvo acima descrito, revertendo-se em incremento de renda e no acesso qualificado ao mundo do trabalho.

Mas antes de apresentar a proposta formativa atual da "Casa da Criatividade", faz-se necessários alguns esclarecimentos sobre a comunidade onde ela atua diretamente, como também, sobre a Organização não-governamental ao qual ela está vinculada.

A comunidade do Coque é uma favela da periferia urbana da cidade do Recife/PE. O Coque é, na verdade, uma ilha (Ilha de Joana Bezerra) com 133 hectares de área e uma população estimada em 48 mil habitantes. A qualidade de vida no bairro e o atendimento as necessidades básicas de infra-estrutura, saúde, educação, alimentação e emprego, são precários. Cerca de 80% da população vive em estado de pobreza crítica, sobrevivendo com renda média entre ½ e 01 salário mínimo. Entretanto, um dos principais problemas da comunidade tem sido o aumento significativo da violência, motivada pela expansão do narcotráfico na localidade. Nesse contexto, crianças, adolescentes e jovens tem sido um público crítico, pois vêem sendo sistematicamente cooptados pelos grupos de narcotráfico local. Apesar de sua localização privilegiada no centro do Recife, a comunidade não está integrada à vida da cidade. Há uma espécie de "barreira invisível", que funciona como bloqueadora dos projetos de crescimento da comunidade. Percebida como uma comunidade violenta, o Coque viu-se enredado num ciclo extremamente perverso: ninguém ajuda, pois a comunidade é violenta; a comunidade é violenta e por isso ninguém ajuda.

Com uma equipe formada por pedagogos, psicólogos, advogados, médicos, arte/educadores, educadores sociais, educadores Holísticos, entre outros, o Núcleo Educacional Irmãos Menores de Francisco de Assis –NEIMFA- em seu modelo formativo que articula educação, arte, formação cultural e profissionalização é uma das poucas organizações que atua neste ambiente há quase 22 anos sem sofrer quaisquer interrupções em seus trabalhos. Reconhecido pelas lideranças e pela comunidade, conseguiu mobilizar ações de proteção social para as crianças e adolescentes, visando a reversão ativa dos problemas enfrentados pela comunidade. O NEIMFA hoje tem entre suas principais finalidades:

  1. Promoção e a defesa dos direitos das crianças, adolescentes, jovens e adultos moradores em situação de vulnerabilidade das periferias urbanas da Região Metropolitana do Recife;
  2. O desenvolvimento de ações sociais educacionais, em todos os seus aspectos, áreas e dimensões, através de projetos de desenvolvimento comunitário e sustentável voltados à reversão das causas geradoras de exclusão e miséria;
  3. A promoção dos direitos humanos, do voluntariado e do associacionismo como dever social, exercício da solidariedade e formação para a cidadania.

Cerca de 10 anos após a construção da proposta inicial, a "Casa da Criatividade" junto com a reforma do estatuto do NEIMFA, sofreu algumas modificações em sua estrutura organizacional. A Instituição passou a distribuir-se em Núcleos de Ação, cada um deles com suas respectivas ações e metas. Concretiza-se, então, o NÚCLEO DE ARTE E CULTURA. Dentre os objetivos a serem concretizados por esse Núcleo estão:

  1. Promover o desenvolvimento cultural das crianças, jovens e adultos, através da valorização de seu repertório artístico e estético;
  2. Planejar, executar e avaliar programas e projetos voltados à produção de bens simbólicos e culturais;
  3. Desenvolver ações e experiências formativas nas áreas de música, dança, artes visuais, teatro e literatura para crianças, jovens e adultos.


O Núcleo de Arte e Cultura realiza uma série de ações, entretanto, a mais abrangente, representativa e sistemática são as ações de planejamento e execução dos programas formativos para o Ensino de Arte: a "Casa da Criatividade". A "Casa da
Criatividade" busca desenvolver estratégias formativas voltadas ao cultivo da imaginação criadora e a produção de bens simbólicos e culturais, representadas na forma das linguagens artísticas e de entretenimento, nas áreas de música, dança, circo, artes visuais e cênicas. A "Casa" é responsável pelas atividades de formação em ensino de arte dos arte/educadores da Instituição, que planejam, executam e avaliam as Oficinas de Artes para as crianças, jovens e adultos da comunidade do Coque.

Desde que retomou suas ações educativas, já realizou 05 (cinco) grandes cursos de formação para arte/educadores:

*O Ensino de Arte no Âmbito das ONGs;

* O Desenvolvimento da Expressão Artística da Criança;

* Teoria e Prática do Teatro-Educação;

*O Processo de Avaliação no Ensino de Arte;

* Arte-Educação Pós-Moderna: princípios e processos;

*Arte Baseada em Comunidade: uma perspectiva intercultural (em andamento).


Os cursos são organizados de modo a contemplar temáticas variadas, relevantes e contemporâneas da arte e de seu ensino. A proposta formativa dá ênfase a uma orientação pós-moderna da arte/educação voltada à atuação no campo não-formal da educação e ao desenvolvimento de ações voltadas a educação cultural e estética através do ensino de arte como mediação cultural e social.

As formações estão distribuídas em módulos (intensivo, continuado e cultural). No módulo intensivo, a temática central é objeto sistemático de estudo e conta com a participação de pedagogos, sociólogos, psicólogos, artistas e demais profissionais que visem à formação integral do ser humano. Nos encontros de Formação Continuada, que acontecem mensalmente, dar-se continuidade aos estudos e discussões dos Cursos de
Formação, além de promover os encontros de planejamento, monitoramento e avaliação das Oficinas de Arte. Mensalmente, também, acontecem os encontros de Formação Cultural, onde os arte/educadores realizam visitas aos Museus, Galerias, Teatros, Cinemas, Feiras de Arte e Artesanato e demais locais onde a arte e as manifestações artísticas e culturais acontecem. Esses encontros são de fundamental importância, pois ampliam o repertório artístico e cultural dos arte/educadores, como também, promovem a interação e a criação de vínculos de amizade entre os participantes.

Outra importante ação da "Casa da Criatividade" são as Oficinas de Arte. Nessas oficinas, são executados projetos de Arte nas várias linguagens artísticas: Artes Visuais, Dança, Teatro e Literatura. Cada oficina atende uma média de 20 beneficiários, numa carga/horária média de 30 horas/aulas. Vale ressaltar que a qualidade do ensino construído e materializado nas oficinas deve-se ao acompanhamento sistemático das ações pelos coordenadores do programa, além da participação efetiva dos arte/educadores nos cursos de Formação e nas atividades de Formação Continuada e Cultural. Os participantes que integram as Oficinas de Arte também realizam encontros culturais os mais diversos. Ao término das oficinas uma Mostra de Arte é organizada. Nessa Mostra, os resultados obtidos/construídos nas oficinas são levados ao público que compõe a Instituição, como também, aos pais, parentes, amigos dos alunos e para a comunidade. Nós últimos três anos, as ações já beneficiaram, diretamente, mais de 300 crianças e jovens.

O NEIMFA, desde o início de sua existência, sempre esteve preocupado com a formação integral do ser humano e, de modo mais ou menos objetivo, as linguagens artísticas sempre estiveram presentes em nossas ações, pois tínhamos consciência de como a arte está impregnada em nosso dia-a-dia, além de permitir a experiência estética, ou seja, a capacidade de contemplação, de reflexão, de análise, de julgamento, de fugir da realidade, de conhecer outros mundos, de amenizar a solidão, de compreender o ser humano e, por conseqüência, compreender, valorizar, respeitar e amar a si mesmo.

Todavia, foi apenas após a sistematização das ações, por volta de 2005, que passamos a ter clareza da demanda e interesse real das pessoas pelas Oficinas de Arte. Quando se divulga uma oficina de dança, por exemplo, em que são oferecidas 25 vagas, a procura é três vezes maior. Infelizmente, nos deparamos aqui com um de nossos limites: o financeiro. Todos os arte/educadores, que são jovens da comunidade entre 18 e 30 anos, atuam como voluntários. Assim, organizam suas vidas entre os aspectos profissionais fora da Instituição e os de atuação voluntária na "Casa". Os limites financeiros fazem que nossas ações sejam restritas a um número ínfimo diante da demanda/desejo da comunidade.

A Arte é uma presença importante dentro do NEIMFA, por que está presente, também, fora da instituição. A comunidade do Coque, já foi muito reconhecida por suas ações artísticas e culturais. Hoje, sufocados pelo descrédito e pelo inexistente apoio das ações governamentais, a comunidade amarga em seus aspectos mais básicos da dignidade humana. Assim, como proposta de reverter esse quadro de exclusão do conhecimento da arte, que é conhecimento do mundo, as nossas ações de formação/ atuação em arte buscam permitir o acesso aos moradores aos bens artísticos e culturais produzidos ao longo da História pelos homens e, ainda, construir formas de resgatar, valorizar e divulgar as atividades estéticas produzidas na comunidade.

Por fim, ressalto, mais uma vez, que ao longo desses anos de ação/atuação muitos problemas já foram formas de obstáculos, todavia, compreender a arte e seu ensino como prática educativa, que vem tendo uma crescente melhora na qualidade de vida dos sujeitos nela inseridos, serve como requisito aos nossos arte/educadores para continuar desempenhando, voluntariamente, as ações de Formação em Ensino de Arte da Casa da Criatividade. A eles, evidentemente, esse texto é carinhosamente dedicado. Como também aos amigos Everson Melquíades, Selma Santos e Tatiana Araújo que decidiram não apenas sonhar, mas concretizar uma experiência de valorização do que há de mais humano nos seres humanos.

* A palavra ESTA foi escrita toda em caixa alta, pois representava os níveis de atuação da proposta: Educação, Saúde, Trabalho e Arte.

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ISSN da publicação Dialogos entre Arte e Público

1983-9960

Relembrando o 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2008 - IRB

O 3o. Encontro Diálogos entre Arte e Público, organizado por André Aquino (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e tendo como equipe Gabriela da Paz, Mércia Siqueira, Cristiane Mabel Medeiros e eu, aconteceu de modo muito gratificante.

Houveram mesas redondas, laboratórios metodológicos, videocasos e uma publicação.

Os palestrantes (Alemberg Quidins/CE, Stela Barbieri/SP, Juliana Prado /RJ, Cayo Honorato/SP, Zozilena Froz/PI, Narciso Telles/MG e Fernado Azevedo/PE) expuseram seus pontos de vistas (no auditório da Universidade Católica de Pernambuco, um de nossos apoiadores) trazendo-nos questionamentos válidos para repensarmos sobre nossas práticas tornando assim a possibilidade de diálogos com o público presente.

Os laboratórios metodológicos foi uma ação pensada por Nara Galvão, Joana D'Arc (Administradora e Coordenadora geral do educativo, consecutivamente, de um de nossos apoiadores, o Instituto Ricardo Brennand) e André Aquino como modo de experimentarmos na prática os discursos de nossos palestrantes Narciso Telles, Juliana Prado, Cayo Honorato e Zozilena Froz que se dividiram com grupos de participantes pelos espaços expositivos do museu citado e dialogou a prática com o público a partir das experiências das pesquisas/ações de cada um.

Os videocasos foram mostrados no último dia e se trataram de vídeos feitos pela Gabriela da Paz, de curta duração (de 4 a 7 minutos cada), que mostram ações que acontecem aqui na cidade do Recife e que lidam com as diversas linguagens artísticas travando o diálogo entre a Arte e a cidadania com as crianças e adolescentes.

Como tem sido desde o primeiro encontro, trabalhamos sempre em cima da frase "(...) dos diálogos que temos, aos diálogos que queremos (...)", e a publicação Caderno de Textos Diálogos entre Arte e Público não podia de estar de fora desse discurso. Como editor acidental, posso assim dizer convidamos profissionais de áreas diversas como História, Comunicações, Antropologia, Música, Circo, Pedagogia, Teatro, Sociologia, Museologia e Arte/Educação para dialogar suas experiências. Afinal, encontramos conexões e até possíveis soluções, para as nossas articulações dialogais entre a arte e o público em cada elemento que nos cerca presentes nas diversas áreas.

Para conhecer os videocasos, ler os artigos, os ver algumas imagens do evento, vocês podem acessar esse blog que criamos divulgando notícias e tendo o material sempre on-line.

Abraços,
Anderson Pinheiro
Arte-educador

Relembrando o 4o. Encontro Diálogos entre Arte e Público - 2009 - MUHNE

O 4º Encontro Diálogos entre Arte e Público, aconteceu nos dias 05 e 06 de outubro de 2009 no Museu do Homem do Nordeste sob organização e coordenação de Regina Buccini (Gerente de Serviços de Formação em Artes Visuais da Fundação de Cultura Cidade do Recife) e Anderson Pinheiro (Articulador da Rede de Educadores em Museus de Pernambuco), a partir de projeto idealizado e organizado por André Aquino.

O encontro promoveu a discussão e a divulgação de pesquisas e experiências que vão ao encontro da potencialização do inter-relacionamento entre arte e público, reunindo profissionais que, atuando em diferentes contextos de mediação cultural, possuam trabalhos de referência na área.

Nesta edição, o encontro propõe o seguinte questionamento “Educadores entre museus e salas de aula: que diálogos são esses?”, a partir do qual busca refletir acerca das estratégias colaborativas que agregam tanto os educadores que atuam em instituições culturais, como os educadores cuja atuação se dá no campo da educação formal.

Com essa discussão pretende-se colaborar para a construção de novas e mais consolidadas parcerias entre esses atores, responsáveis pela dinamização da democratização cultural.

05 de outubro de 2009

| Laboratório Metodológico

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação a partir do espaço expositivo do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.

| Primeiro Diálogo

Debate: Formação de educadores entre museus e sala de aula.

Partindo de algumas questões pertinentes quanto à formação do educador de museu/mediador cultural e do educador de sala de aula/professor, as suas principais queixas e as possibilidades de efetuar parcerias entre ambos, o Primeiro Diálogo será direcionado, através das experiências das palestrantes em conjunto com as vivências com o público no Laboratório Metodológico, na busca de uma visualização sobre quais os diálogos que são possíveis de serem executados entre as partes envolvidas. Tentando assim compreender quais os melhores meios de encontrar conexões de atividades/ações desses educadores e suas formações recebidas durante os encontros pedagógicos nos museus.

Convidadas: Rejane Coutinho (SP) | Miriam Celeste (SP)

Mediação: Joana D’arc de Souza Lima (PE)

06 de outubro de 2009

| Oficina: Mediações intermidiáticas em vivências estético-digitais.

Convidada: Fernanda Cunha (GO)

Sinopse: O objetivo da oficina é proporcionar experiências intermidiáticas através da inter-relação dos meios digitais e não-digitais como mediadores nas vivências estético-digitais.

| Laboratório Metodológico

Convidada: Renata Bittencourt (SP)

Sinopse: Debate informal sobre estratégias de mediação problematizando a inserção de recursos tecnológicos como campo de possibilidades de mediação em espaços expositivos a partir da nova exposição do Museu do Homem do Nordeste. No laboratório, os participantes buscarão formas de dialogar com a exposição, mapeando limites e possibilidades dessa mediação em diferentes contextos.




| Segundo Diálogo

Debate: Interseções entre mediação cultural e linguagens midiáticas

O uso recorrente das novas tecnologias no cotidiano tem nos levado a deparar com as possibilidades pedagógicas presente em seus processos dialogais. Por outro lado, percebemos como a inserção do uso dessas tecnologias como registro de visita a espaços museais e culturais tem transtornado as ações de mediação desses setores educativos. Às vezes, esses recursos tecnológicos fazem parte da própria expografia museográfica servindo como recurso propositivo de mediação. Partindo dessas situações o Segundo Diálogo pretende dialogar com as ações efetuadas tanto na Oficina como no Laboratório Metodológico sobre das novas tecnologias como recursos educacionais, seja no espaço escolar como no museal, refletindo sobre a possibilidade de utilizá-los como recursos propositivos complementar para a mediação/educação.

Convidadas: Fernanda Cunha (GO) | Renata Bittencourt (SP)

Mediação: Sandra Helena Rodrigues (PE)

| Lançamento da Publicação

Diálogos entre Arte e Público - Anderson Pinheiro (PE)

As idéias presentes nos diálogos de cada autor e autora demonstram, através de artigos, ensaios e relatos de experiências, ações que são possíveis de serem executadas pelos Educadores entre museus e sala de aula. Essa segunda edição da publicação foi organizada também com muito diálogo de modo que fosse possível invadir o lugar de cada um e construir um espaço coletivo que são aqui apresentados em quatro eixos, “Imagem e Tecnologia”, “Mediação e Arte Contemporânea”, “Educadores entre museus e sala de aula” e “A Criança e o Museu”.